Artigos
Planejamento agrícola municipal avança em Minas Gerais
                                 O 
município de Pedro Leopoldo (a 40 quilômetros de Belo Horizonte) é a nova 
referência do Plano Diretor Agrícola Municipal (PDAM) em Minas Gerais. Em menos 
de dois anos, foram efetuado o diagnóstico sócio-econômico, definidos os 
projetos prioritários e criado o conselho municipal que já começou a analisar 
esses projetos.  Pedro Leopoldo               A 
economia de Pedro Leopoldo, cidade de 54 mil habitantes, é sustentada por 
um dinâmico setor urbano e industrial. Terrenos calcários e uma boa 
infra-estrutura dotaram o município de grandes empresas cimenteiras e de 
derivados de calcário destinado à construção civil. Tem um setor agropecuário 
competitivo, cujo centro de atividades rurais é a produção de leite e de milho, 
além de olericultura e ovos. Verifica-se o crescimento acelerado das 
propriedades destinadas ao lazer, a atividades rurais não-agrícolas e à ocupação 
de terras agricultáveis por pessoas de origem urbana.  As propostas               Após a sistematização das informações, decidiu-se 
trabalhar na elaboração do plano diretor agrícola para nortear as ações. 
Optou-se, inicialmente, por divulgar amplamente as informações obtidas no 
diagnóstico sócio-econômico, por meio de processo participativo. Como apoio, foi 
elaborada uma fita de vídeo de seis minutos, que mostra o PDAM e os resultados 
do levantamento de campo. A partir do início de 2002, foram promovidas quatro 
reuniões setoriais no município para apresentar e discutir esses resultados com 
os agricultores.  Conselho municipal               Para a 
análise dos projetos, criou-se o Conselho Municipal. O processo de implantação 
do conselho, porém, foi moroso. Nesse intervalo, os resultados gerados pelo 
diagnóstico sócio-econômico começaram a ser utilizados. O Banco do Brasil, por 
exemplo, solicitou um diagnóstico sobre os pequenos agricultores para efeito de 
política de concessão de crédito. A patrulha mecanizada e o programa de 
distribuição de sementes, existentes no município, passaram a usar as 
informações do PDAM.  Repercussão               A 
repercussão do trabalho em Pedro Leopoldo já chegou a outros municípios, que 
manifestaram interesse na adoção do PDAM. São os casos de Itabirito, Brumadinho, 
Muriaé e Poços de Caldas, também próximos a Belo Horizonte.  Rumo               A 
repercussão do PDAM na imprensa e a crescente procura por parte de municípios, e 
até de outros estados, despertou ainda mais o interesse dos técnicos e da 
própria direção da Emater-MG. Assim, no final de 2002, a direção da empresa 
solicitou a equipe técnica que criasse um novo produto, juntando o PDAM ao 
trabalho de 'Caracterização de Ecossistema'. Este diagnóstico consiste no 
mapeamento biofísico (trabalho mais ecológico) do município. 
            O PDAM é um sistema de informações rurais de âmbito municipal idealizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A atual versão (2.1), utilizada pela Emater-MG1 em Pedro Leopoldo, foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)2. 
            
Esse sistema foi introduzido pela primeira vez no Estado, há quase quatro anos, 
no município de Entre Rios de Minas, cujo programa foi conduzido pela Emater-MG, 
em parceria com a prefeitura local, e recebeu treinamento e supervisão de 
técnicos do IEA.  
            
Do ponto de vista estratégico, Pedro Leopoldo está próximo do Ceasa e do 
aeroporto de Confins (entre 10 e 15 km) e de bairros populosos da periferia de 
Belo Horizonte (cerca de 20 km). É uma região de muitos condomínios de sítios de 
fim-de-semana, caracterizando um público de maior poder aquisitivo. Sua 
localização confere grande potencial de produção agrícola para abastecer o 
mercado da região da capital mineira. 
            
A implantação do PDAM em Pedro Leopoldo teve início em julho de 2001, com o 
levantamento de dados sócio-econômicos. Foi fruto de um pool de investidores que 
aglutinou Prefeitura Municipal, Sindicato dos Produtores Rurais, Cooperativa 
Agropecuária de Pedro Leopoldo, Credipel, Banco do Brasil e Emater-MG. O 
trabalho foi articulado pela Secretaria de Agricultura local. 
            
Foram empregados vários entrevistadores, que durante quatro meses cobriram quase 
100% do município (exceção do centro urbano). Registros anteriores apontavam 180 
propriedades ou imóveis rurais - alguns registros citavam 200 - mas foram 
descobertos 460 imóveis rurais. Com o apoio dos três técnicos do escritório 
local da Emater, conseguiu-se melhor coordenação e qualidade superior dos dados. 
Pedro Leopoldo deve ser atualmente o município mineiro com os melhores dados 
sobre agricultura. 
            
O levantamento mostrou que pouco mais da metade dos imóveis rurais (56%) podem 
ser consideradas unidades produtivas de perfil econômico familiar. Na parte 
fundiária, 70% dos imóveis possuem menos de 50 hectares e representam 35% da 
área. 
            
No uso do solo predominam as pastagens, seguidas de áreas de matas naturais e de 
culturas anuais e perenes (estas duas últimas alcançam apenas 10% da área). Nas 
unidades com menos de 50 hectares, observa-se a maior presença do rebanho 
leiteiro misto. Os imóveis entre 100 e 500 hectares mesclam o gado leiteiro com 
bovinos de corte. 
            
A produção de leite é a mais importante atividade agropecuária para fins 
comerciais, com a presença quase exclusiva da cooperativa local que recebe mais 
de 90% da produção. Observa-se a produção de derivados de leite na forma 
artesanal, com venda direta ao consumidor. Apesar da importância do setor 
leiteiro, existe pouco interesse por parte da maioria dos pecuaristas em 
adquirir tecnologias modernas como inseminação artificial ou adotar outro tipo 
de manejo, como o pastejo intensivo. 
            
A cultura anual mais importante do município é o milho, utilizado tanto como 
grão quanto como silagem. O feijão aparece em segundo lugar e é um típico 
produto de subsistência. A produção de olerícolas é destinada principalmente ao 
Ceasa. 
            
Nas culturas perenes, o destaque é a cana-de-açúcar destinada à alimentação do 
gado e à produção de cachaça. Além de pomares existentes na maior parte dos 
imóveis rurais, algumas das frutas produzidas são para venda comercial e outras 
abastecem a indústria artesanal de doces, como a goiabada. Destacam-se, ainda, 
as produções de ovos, mel, leite de cabra e galinha caipira. 
            
O associativismo baseia-se nas cooperativas e, em menor grau, no sindicato 
rural, embora não haja tradição associativista nas comunidades e distritos 
rurais. O uso da assistência técnica está restrito à Emater (imóveis rurais com 
menos de 50 hectares) e à cooperativa agropecuária local. 
            
A proximidade de centros consumidores, a capacidade de investimentos de boa 
parte dos produtores rurais e a infra-estrutura (eletrificação, telefonia, 
rodovias, fácil acesso ao aeroporto e ao Ceasa) completam esse quadro. Também 
existem órgãos de apoio e fomento agropecuário e creditício, além do Sebrae, de 
uma faculdade e de escolas técnicas.  
            
Selecionaram-se vários projetos, decorrentes dos debates, como os de incentivo à 
produção orgânica de alimentos, produção de derivados de cana-de-açúcar 
(cachaça, rapadura, etc.), organização e comercialização da agroindústria 
artesanal (frutas e leite), produção e exportação de cogumelos medicinais, 
produção e comercialização de fitoterápicos. Esses projetos passaram a fazer 
parte do documento 'Cenários e propostas para Pedro Leopoldo'. 
            
O documento traz ainda as diretrizes do Plano Diretor, abrangendo cadeias 
produtivas de grãos e pecuária de leite, atividades alternativas, indústria 
artesanal, cana e derivados, além de infra-estrutura e apoio ao meio rural, 
qualidade de vida (festas típicas e esportes, preservação ambiental, práticas 
culturais, etc.) e associativismo.  
            
Com a recente implantação do Conselho Municipal, os projetos passaram a ser 
discutidos pelos seus membros, embora alguns já estejam em andamento ou em fase 
inicial, como os de cogumelo (tem até cooperativa de cogumelo), agricultura 
orgânica, cana-de-açúcar, doces artesanais (está sendo formada uma cooperativa 
de produtos artesanais) e pecuária de leite (impulsionado pelo Propec, um 
programa de gerenciamento da pecuária leiteira do Estado que utiliza crédito 
rural do Banco do Brasil). 
            
Paralelamente ao processo de discussão no conselho, fortalece-se a parceria com 
as políticas públicas municipais (patrulhas mecanizadas, distribuição de 
sementes e mudas, etc.). A Secretaria da Agricultura atua no sentido de 
estimular os supermercados locais a comprar os produtos do município, inclusive 
os orgânicos.  
            
Poços de Caldas está terminando o diagnóstico denominado Caracterização do 
Ecossistema (serviço oferecido pela Emater-MG) e agora pretende implantar o 
PDAM, sob a supervisão técnica da empresa. A propósito, a acoplagem do PDAM a 
este trabalho de ecossistema é uma prática nova introduzida pela empresa. 
Itabirito é outro exemplo de município que já adotou o ecossistema e deve partir 
para o PDAM, com a assessoria da Emater-MG. Não é o caso de Brumadinho que optou 
por adotar apenas o segundo. 
            
Uberaba e Araxá, no Triângulo Mineiro, são outros municípios onde existe a 
possibilidade de se utilizar o PDAM. Em Uberaba, o Conselho Municipal está 
discutindo o assunto, uma vez que verificou a necessidade de informações 
sócio-econômicas para subsidiar o planejamento do município. Por sua vez, em 
Araxá, as perspectivas são também favoráveis.  
            
A idéia, portanto, é que a empresa passe a oferecer esse novo produto, com o 
nome de Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável (PMDS), de forma a 
conciliar informações ambientais com informações socioeconômicas. No entanto, 
manteve-se, estrategicamente, a divisão em dois módulos uma vez que é um produto 
caro. 
            
De qualquer forma, o caminho está delineado, a partir da experiência muito rica 
vivenciada pela Emater-MG com o PDAM. O sistema ganhou a adesão dos técnicos da 
empresa por ter se revelado um projeto de sucesso. 
            
A experiência de Pedro Leopoldo permitiu avançar em relação ao processo de Entre 
Rios de Minas. E a tendência é o aprofundamento desse processo na medida em que 
novas experiências sejam efetivadas em outros municípios. 
            
A proposta da Emater-MG é que o PDAM seja aplicado como a ponta-de-lança de um 
processo maior. O foco deve ser a instalação e o efetivo funcionamento de um 
conselho municipal representativo, cujos componentes devem ser capacitados para 
que possam contribuir na discussão e viabilização dos projetos, com o 
envolvimento da comunidade e o apoio dos técnicos da Emater-MG. 
            
Cabe à empresa ajudar na criação das bases de um trabalho de planejamento que 
contemple o envolvimento da comunidade e a gestão social de políticas públicas 
com vistas ao desenvolvimento rural sustentado. Nesse sentido, o PDAM é uma 
ferramenta bastante adequada, pois permite não apenas levantar informações mas 
também promover e potencializar o debate.  
Data de Publicação: 22/04/2003
                Autor(es): 
                Everton Augusto Paiva Ferreira (aspdeger@emater.mg.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor              

                    
                        