Panorama da Vitivinicultura Brasileira

            O negócio vinho movimenta aproximadamente US$ 180 bilhões no mercado mundial1. Dentre os principaisprodutores destacam-se os países tradicionais do chamado Velho Mundo como França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha e, mais recentemente, os países do Novo Mundo como EUA, Chile, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e África do Sul. A partir da década de 1970 os vinhos do Novo Mundo, que representavam apenas 5% do mercado internacional, ganharam qualidade e passaram a competir com os europeus no mercado internacional e, atualmente, já são responsáveis por 50% do total de vinhos comercializados no mundo.
            O aumento da produção em alguns países como Nova Zelândia, África do Sul, Chile e outros, do chamado Novo Mundo, impôs um problema ao mercado mundial de vinhos ao elevar os estoques, pois o consumo mundial não cresce no mesmo ritmo.
            Segundo dados da Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV)2, em 2006 a estimativa de produção mundial de vinho esteve entre 27,5 bilhões e 28,6 bilhões de litros, e o consumo mundial foi de 23,8 bilhões de litros.
            Não há como discutir a produção de vinho sem abordar a produção de uva. Em 2006 a área plantada de uvas no Brasil totalizou aproximadamente 87,7 mil ha3. Apesar de os principais estados brasileiros produtores de uva apresentarem acréscimo na área plantada no triênio 2004-2006, houve queda na produção, fato que pode ser explicado tanto por problemas climáticos nas principais regiões produtoras como pelo plantio de novas variedades menos produtivas, a exemplo das uvas sem semente (Tabelas 1 e 2).


Tabela 1 - Área Plantada com Uva nos Principais Estados Brasileiros, Período 2004-2006

(mil ha)

Estado
2004
2005
2006
Rio Grande do Sul
40,3
42,4
47,5
São Paulo
11,9
13,7
18,7
Pernambuco
4,6
4,9
6,4
Paraná
5,7
5,6
5,9
Bahia
3,4
3,0
3,1
Santa Catarina
3,9
4,2
4,9
Minas Gerais
0,9
0,9
0,9
Brasil
71,1
75,0
87,7

Fonte: IBGE (2007)3.


Tabela 2 - Produção de Uva nos Principais Estados Brasileiros, Período 2004-2006

(mil toneladas)

Estado
2004
2005
2006
Rio Grande do Sul
696,5
611,8
623,8
São Paulo
193,3
231,6
194,4
Pernambuco
151,6
150,8
155,7
Paraná
96,6
99,2
104,4
Bahia
85,9
90,9
89,7
Santa Catarina
46,0
47,9
47,7
Minas Gerais
13,0
14,3
12,2
Brasil
1.283,2
1.246,9
1.228,3

Fonte: IBGE (2007)3.


            Do volume total de uva produzida no mundo em 2006, 38,32% foram destinados à elaboração de vinhos, sucos, destilados e outros derivados, o que representa redução de 14,52% em comparação com o ano anterior4. Segundo Protas; Camargo; Mello (2006)5, em média, 45% do volume de uva produzida no Brasil é destinado ao processamento na elaboração de vinhos, sucos e outros derivados e 55% comercializados in natura. Do total de produtos industrializados, 60% são vinhos de mesa e 21% sucos de uvas, ambos elaborados a partir de uvas de origem americana, especialmente cultivares Vitis labrusca, Vitis bourquina e híbridos interespecíficos diversos. De acordo com aqueles autores, cerca de 10% são vinhos finos, elaborados com castas de Vitis vinifera; o restante (9%) é para outros derivados de uva e do vinho (Tabela 3).
            Existe escassez de informações sobre produção e comercialização brasileira de vinho e de suco de uva. O único Estado que realiza e publica estimativa é o Rio Grande do Sul. Segundo as estimativas existentes, esse estado brasileiro é responsável por cerca de 80% do volume da produção do País e o Vale do Rio São Francisco, por 15%.


Tabela 3 - Produção, Exportação, Importação, Processamento e Consumo de Uvas no Brasil, Período 1990-2006

(em t)

Ano
Produção
Exportação
Importação
Processamento
Consumo in natura
1990
786.218
1.845
14.682
490.930
308.125
1991
648.026
2.882
12.131
339.369
317.906
1992
800.112
6.877
4.786
398.089
399.932
1993
785.958
12.552
4.508
401.472
376.442
1994
800.609
7.092
8.384
450.561
351.340
1995
836.545
6.786
23.891
455.772
397.878
1996
730.885
4.516
56.817
313.331
442.945
1997
855.641
3.705
23.222
414.485
460.673
1998
736.470
4.405
26.492
348.523
410.034
1999
868.349
8.083
8.599
469.870
398.870
2000
978.577
14.343
9.903
549.306
424.831
2001
1.062.817
20.660
7.457
469.098
580.516
2002
1.120.574
26.357
11.003
506.799
598.421
2003
1.054.834
37.601
7.612
425.946
598.899
2004
1.281.802
28.815
6.072
624.450
634.609
2005
1.246.976
51.213
8.387
550.700
696.246
2006
1.228.390
62.250
12.106
470.705
757.685

Fonte: Atualizado pelos autores com base em Mello (2001, 2005)6 e 7.


            O Rio Grande do Sul comercializa 60% da sua produção de vinho a granel8, esse estado registrou 140 milhões de litros de vinho vendidos a granel. O Estado de São Paulo importa 40% do vinho produzido no País.
            Dados preliminares da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA)9 e do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN)10 registram que em 2006 o Rio Grande do Sul produziu 346,4 milhões de litros de vinhos, sucos e derivados e comercializou 443,1 milhões de litros (Tabelas 4 e 5).
            Quanto à produção de vinhos, houve queda de 13,92% em 2006 em relação a 2005. A mesma tendência de queda foi encontrada na quantidade comercializada no mesmo período, com destaque para o vinho de mesa (9,35%) se comparado ao vinho fino (0,99%) (Tabelas 4 e 5).

 

Tabela 4 - Produção de Vinhos, Sucos e Derivados do Estado do Rio Grande do Sul, Período 2003-2006

(em litros)

Produto
2003
2004
2005
2006
Vinho de mesa
202.545.724
312.549.281
226.080.432
185.100.887
Tinto
155.513.687
252.979.739
180.698.666
149.527.555
Branco
40.861.639
51.497.025
39.212.146
31.738.390
Rosado
6.170.398
8.072.517
6.169.620
3.809.942
Vinho fino
29.551.457
43.084.644
45.453.898
32.168.976
Tinto
15.357.576
23.160.118
25.409.805
18.868.108
Branco
14.058.481
19.887.747
20.012.363
13.249.969
Rosado
-
-
31.730
50.900
Suco de uva simples
4.659.258
6.200.037
9.798.024
13.946.491
Suco concentrado1
55.241.820
89.390.375
97.566.220
87.073.025
Outros derivados
20.741.475
21.693.858
23.549.751
28.151.593
Total
312.819.734
472.918.195
402.448.325
346.415.973

1Transformado em litros de suco simples.

Fonte: UVIBRA e IBRAVIN in: Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 200711.


Tabela 5 - Comercialização de Vinhos, Sucos e Derivados do Estado do Rio Grande do Sul, Período 2003-2006

(em litros)

Produto
2003
2004
2005
2006
Vinho de mesa1
217.082.959
225.370.322
271.248.493
245.072.881
Tinto
179.225.328
186.598.797
227.987.457
208.951.066
Rosado
6.945.806
5.477.846
39.698.976
33.057.424
Branco
30.911.825
33.293.679
3.562.059
3.064.392
Vinho especial2
205.269
66.990
285.994
172.174
Tinto 
87.544
51.825
278.339
171.360
Branco
117.725
15.165
7.655
815
Vinho fino de mesa3
23.293.171
19.864.478
22.306.004
22.085.322
Tinto
12.559.693
10.859.722
13.335.767
13.590.710
Rosado
579.724
390.370
472.971
307.188
Branco
10.153.754
8.614.386
8.497.265
8.187.423
Espumantes
4.204.240
4.813.838
5.705.224
7.482.727
Espumante moscatel
594.044
691.059
1.071.448
1.277.312
Suco de uva integral
7.496.195
8.803.831
14.675.316
15.481.706
Suco de uva concentrado4
76.233.255
96.101.615
116.109.494
115.846.680
Outros derivados
21.130.535
40.107.837
39.757.825
35.724.878
Total
350.239.668
395.819.970
471.159.798
443.143.680

1Elaborado com uvas americanas e híbridas.
2Corte de vinho de mesa e vinho fino de mesa.
3Elaborado a partir de cultivares de Vitis vinifera.
4Valores convertidos em suco simples.   

Fonte: UVIBRA e IBRAVIN in: Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 200711.


            O consumo interno de vinhos finos cresceu 14,63% de 2005 para 2006. No entanto, o Brasil ainda ocupa o 53º lugar em consumo no ranking mundial com 1,8 litro/habitante/ ano12.
            Os importados ainda representam a maior fatia do mercado nacional com participação de 64,89%. Dentre os motivos dessa supremacia estrangeira pode-se destacar a taxa de câmbio que favorece as importações e a preferência do consumidor brasileiro pelo produto importado. Os dados da Secretaria do Comércio Exterior (SECEX), órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior13, revelam que a participação dos importados tem se intensificado nos últimos anos: em 2006 o Brasil importou 46,37 milhões de litros de vinho, ou seja, 23,67% a mais que em 2005. Quanto às origens dos vinhos importados pelo Brasil, observa-se que países vizinhos como Chile e Argentina são os principais exportadores. Os preços dos vinhos chilenos e argentinos são competitivos com os vinhos comuns de mesa brasileiros, o que explica a maior concorrência com os vinhos nacionais (Figuras 1 e 2).
 
 



O segmento dos espumantes, em especial os moscatéis, tem registrado aumento significativo no consumo. A conquista de mercado dos espumantes pode ser atribuída às campanhas de marketing13. Apesar do aumento da qualidade do produto nacional, o importado ainda tem uma grande participação no mercado brasileiro, pois o volume de champagne e espumantes de origem externa tiveram um incremento de aproximadamente 32%14 no período 1999-2005 (Figura 3).

            As exportações brasileiras de vinho ainda são pequenas e não registraram o desempenho esperado em 2006. As vendas externas atingiram 3,41 milhões de litros, o que constitui redução de 3,26% em relação ao ano de 200513.
            No mercado interno, os vinhos nacionais sofrem a concorrência desleal dos produtos derivados que possuem somente algum percentual de vinho na composição total, mas que são geralmente comercializados como vinhos. São considerados derivados os coolers, sangrias, coquetéis, vinhos compostos, entre outros. Tais produtos possuem aceitação crescente no mercado vitivinícola brasileiro nos últimos anos.
            No cenário nacional a vitivinicultura está em crescimento e constitui alvo de pesquisas e estratégias de políticas públicas, como a Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos, realizada pelo Rio Grande do Sul que foi reconhecida recentemente pela União Européia; o zoneamento vitivinícola do Rio Grande do Sul; o Programa Wines from Brazil para promoção do vinho nacional no exterior; a tramitação no Congresso Nacional da regulamentação da profissão de enólogo; o Programa SPVinhos para a revitalização da vitivinicultura paulista; entre outros. A cadeia produtiva do vinho envolve vários setores e é grande geradora de emprego e renda, todavia, muitas barreiras persistem e merecem ser ultrapassadas.
________________________________________________________________________
1ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DA UVA E DO VINHO - OIV. Disponível em: <http://www.oiv.int >. Acesso em: 10 mar. 2007.
2Op. cit. nota 1.
3INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2007.
4 VENCATO, A. et al. Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho 2007. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2007. 128 p.il.
5PROTAS, J. F. da S.; CAMARGO, U. A.; MELLO, L. M. R. de; Viticultura brasileira: regiões tradicionais e pólos emergentes. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 27, n .234, p. 7-15, set/out. 2006.
6MELLO, L. M. R. de. Cadastro vitícola do Rio Grande do Sul 1995-2000. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2001. 1 CD ROM.
7MELLO,L. M. R. de. Cadastro vitícola do Rio Grande do Sul 2001-2004. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2005. 1 CD-ROM.
8 Op. cit. nota 4.
9UNIÃO BRASILEIRA DE VITIVINICULTURA–UVIBRA. Disponível em: <http://www.uvibra.com.br/>. Acesso em: 10 mar. 2007.
10INSTITUTO BRASILEIRO DO VINHO–IBRAVIN. Disponível em: <http://www.ibravin.org.br/> Acesso em: 10 mar. 2007.
11Op. cit. nota 4.
12RIGON, L. et al. Anuário Brasileiro de Uva e Vinho 2006. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2006.
13GUERRA, C. C. et.al. Vinhos tropicais: novo paradigma enológico e mercadológico. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 27, n. 234, p. 100-104, set/out. 2006.
14SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR–SECEX. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2007.

Palavras-chave: vitivinicultura, produção de uva e vinho, comercialização de vinho.

 


Data de Publicação: 23/04/2007

Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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