Carne Bovina:comportamento dos preços em 2008

            A bovinocultura de corte se apresenta como uma das principais atividades agropecuárias no Estado de São Paulo. Representando o 2º produto no Valor da Produção Agrícola (VPA) paulista, superada somente pela cultura da cana-de-açúcar, a carne bovina correspondeu a 13,3% do VPA estadual no ano de 2008, quando contabilizou um valor estimado de R$5 bilhões dos R$37,7 bilhões totalizados no Estado, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA)1.

            Entremeada em um ciclo de valorização no preço da arroba do boi gordo, entre 2007 e 2008, mesmo apresentando uma minúscula variação negativa no nível da produção em torno de -0,95%, com a ascensão do preço médio da arroba de R$58,42 para R$78,31, nesse intervalo houve um incremento de 32,78% no VPA da bovinocultura paulista2.

            A seqüência de produção da carne bovina (Figura 1) se apresenta como um conjunto de agentes interativos, que são os fornecedores de insumos, os sistemas produtivos (pecuária), as indústrias de transformação, a distribuição e comercialização e os consumidores finais (interno e externo).

Figura 1 - Síntese da Seqüência de Produção da Carne Bovina. 

Fonte: Dados da pesquisa.

            Na figura 1, a letra A representa a fase de comercialização do boi gordo; B representa a fase de comercialização no atacado (traseiro, dianteiro e ponta de agulha de bovinos); e C representa a fase de comercialização no varejo (cortes de carne bovina in natura).

            A figura 2 apresenta o comportamento, em 2008, dos preços médios mensais recebidos pelo agricultor (boi gordo), dos preços praticados no mercado atacadista3 (traseiro, dianteiro e ponta de agulha de bovinos) e dos preços no âmbito do mercado varejista4 (cortes de carne bovina in natura) na cidade de São Paulo.Os coeficientes de variação (CV) foram de 16,9% para o boi gordo, de 17,4% para o atacado e de 14,8% para o varejo. Esses CV podem ser considerados médios, apresentando assim uma variação maior que as observadas nos anos anteriores.

Figura 2 - Preços Médios Mensais do Boi Gordo no Estado de São Paulo, 2008. 

Fonte: Elaborada a partir dos dados do IEA.

            Pode-se visualizar uma ascensão no 1º semestre, especificamente de fevereiro a julho, dos preços da carne bovina nos três níveis (pago ao produtor, no atacado e no varejo) chegando a julho com um aumento acumulado de 23,5% no boi gordo, 24% no atacado e 17% no varejo em relação a dezembro de 2007 (Figura 3).

Figura 3 - Variação Acumulada5 dos Preços da Carne Bovina nos Três Níveis, Estado de São Paulo, 2008. 

Fonte: Elaborada a partir dos dados do IEA.

            De julho a setembro os preços se mantiveram praticamente estáveis. Entre setembro e outubro o boi gordo e o varejo apresentaram um pequeno reajuste (1,5% e 0,2% respectivamente), em contraposição, o atacado teve uma significativa elevação de quase 6%.

            A partir de novembro o boi gordo entrou em declínio no valor de sua cotação, fechando dezembro com um acumulado de 12,1% nos últimos doze meses; o atacado manteve a mesma tendência, entretanto com magnitude menor, finalizando com 22,4%; já o varejo teve um comportamento antagônico, apresentando uma elevação de preço nesse período, terminando novembro com 26% de elevação no ano.

            Para os pecuaristas o ano de 2008 somente não foi tão bom em virtude da reversão da tendência de alta em julho, mantendo-se o preço da arroba estável até novembro, quando os frigoríficos reduziram os abates (em virtude da crise econômica internacional, ficaram receosos em relação às exportações, tanto ao volume, quanto aos valores), forçando queda na cotação do boi gordo.

            Para os frigoríficos o ano foi melhor, já que estes repassaram além dos aumentos do boi gordo (até setembro); e em outubro, mesmo com a queda da cotação continuaram a aumentar os preços da carne no atacado. Somente a partir de novembro não tiveram como sustentar os preços em virtude do redirecionamento de parte significativa da carne bovina do mercado externo para o mercado interno que gerou um aumento da oferta doméstica6.

            O varejo se manteve descolado do atacado até maio, quando acompanhou os reajustes do boi gordo e do atacado que ocorreram até outubro. De novembro em diante manteve tendência de alta aproveitando o final do ano, quando tradicionalmente ocorre aquecimento da demanda.

            Com tudo isso, pode-se dizer que o ano de 2008 foi atípico, pois nos meses em que costuma ocorrer uma queda das cotações (janeiro a maio/junho) houve uma majoração dos preços e, quando se esperava um aumento dos preços (junho/julho a dezembro), estes ficaram estáveis, sofrendo uma diminuição no final do ano. Este comportamento no primeiro semestre deve-se ao ciclo pecuário ascendente e, no segundo semestre, à citada ação dos frigoríficos.

            Mesmo com a crise deflagrada no começo do último trimestre de 2008, em que mercados como o da Rússia diminuíram significativamente as compras de carne brasileira7, os preços no varejo não baixaram mesmo com esta maior disponibilidade de carne no mercado interno, ocasionada por uma maior procura no mês de dezembro, quando os assalariados recebem o 13º salário. Sendo assim para o consumidor foi um ano ruim em conseqüência do reajuste aplicado pelo varejo que repassou as majorações do atacado e boi gordo, além do aumento da sua própria margem.
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1TSUNECHIRO, A. et al. Valor da produção agropecuária do estado de São Paulo em 2008: estimativa preliminar. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.10, out. 2008.

2Op. cit. nota 1.

3Para o cálculo do preço da carne bovina no atacado, adotou-se a relação de quartos da carcaça: traseiro=48%, dianteiro=39% e ponta de agulha=13%, que são os mais comumentes relatados na literatura.

4Para o cálculo do preço da carne bovina no varejo, o IEA adota as seguintes ponderações: acém=14,9%, alcatra=7,7%, capa de filé=2,6%, contra-filé=9,0%, costela=15,0%, coxão duro=10,9%, coxão mole=10,3%, filé mignon=2,3%, lagarto=3,2%, músculo=2,6%, patinho=6,4%, peito=14,9%.

5Variação acumulada, tendo dezembro/2007 como referência. Assim, pode se avaliar com mais clareza o comportamento dos preços no período.

6CAVALCANTI, M. da R. Crise, Rússia e as exportações brasileiras em 2009. (BeefPoint). Disponível em: <http://www.beefpoint.com.br/crise-russia-e-as-exportacoes-brasileiras-em-2009_noticia_50975_15_123_.aspx.>. Acesso em: 13/02/2009.

7Op. cit. nota 6.

Palavras-chave: pecuária de corte, carne bovina, boi gordo, preços.

 

Data de Publicação: 11/03/2009

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor