Comércio Exterior da Floricultura Brasileira em 2008: lições para o setor

            O desempenho do comércio exterior de produtos da floricultura no Brasil em 2008 mostrou que a tendência analisada em janeiro de 2008 prosseguiu com resultados ainda alarmantes com grande perda de competitividade para o setor. Já tinha sido apontado o crescimento do valor das exportações às custas de aumento nas importações (de matéria-prima), além da perda do poder comprador dos Estados Unidos, o segundo maior parceiro comercial da floricultura brasileira1.

            Em 2008, as exportações dos produtos da floricultura brasileira atingiram o valor de US$35,6 milhões, o que representa um crescimento de menos de 1% em relação ao ano anterior, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC)2. Por outro lado, o valor das importações em 2008 (US$14,1 milhões) cresceu 30,7% em comparação com o de 2007. O saldo comercial terminou o ano com uma variação negativa (-12,2%) em relação ao ano anterior, totalizando US$21,5 milhões. O desempenho do setor em 2007 em relação ao de 2006 tinha sido melhor embora considerado preocupante: exportação (+9,1%), importação (+23,2) e saldo (+3,9%).

            O ano de 2008 foi um turning point para o setor: no período 2000 a 2007, os valores FOB, tanto das exportações quanto do saldo comercial, apresentaram a mesma tendência de crescimento e, em 2008, as exportações quase que estagnaram e o saldo despencou de US$24,5 milhões em 2007 para US$21,5 milhões em 2008. Enquanto o valor das importações teve queda no período de 2002 a 2005, a partir de 2006 vem crescendo continuamente sem o correspondente crescimento nas exportações.

            O valor exportado da floricultura brasileira em 2008 apresentou variação positiva apenas para bulbos tendo desempenho negativo para grupos3 restantes (mudas, flores e folhagens). O grupo de bulbos ocupa o primeiro lugar com US$16,0 milhões exportados na participação porcentual no valor exportado, representando 44,8% da fatia ao lado de maior crescimento anual (+13,7%). A segunda fatia (42,7%) foi ocupada pelo grupo de mudas com US$15,2 milhões, porém com desempenho um tanto desfavorável (-0,8%). Em terceiro lugar, o grupo de flores frescas deteve a fatia de 6,8% (US$2,4 milhões), com o pior desempenho anual (-35,4%). Por último, o grupo de folhagens - com a fatia de 5,7% (US$2,0 milhões) do valor total exportado - apresentou desempenho aquém da expectativa (-6,5%) (Figura 1).

Figura 1 - Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, por Grupo, 2007 e 2008. 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX/MDIC (2009).

            Os valores exportados nos meses de julho e agosto de 2008, por outro lado, foram bem maiores em relação ao ano de 2007, confirmando a tendência do deslocamento nas exportações mensais para estes meses, já observada nos anos anteriores. Estes acréscimos foram "compensados" nos meses de outubro, dezembro, novembro e setembro em respectivamente em -29%, -22%, -18% e -17% (Figura 2).

Figura 2 – Exportação Mensal dos Produtos da Floricultura Brasileira, 2003 a 2008. 

Fote: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX/MDIC (2009).

            Holanda e Estados Unidos continuam como parceiros comerciais mais importantes da floricultura brasileira entre os 43 países de destino em 2008, responsáveis por 79,9% do valor das exportações brasileiras do setor. A Holanda continua imbatível como destino principal em termos de valor comercializado (US$22,1 milhões), respondendo por 62,0% do total, com desempenho de +9,1% em relação ao período anterior. Os Estados Unidos, embora ocupem 17,9% da fatia exportada com US$6,4 milhões, apresentaram desempenho muito aquém do esperado (-14,2%), pois em 2007 o desempenho era ainda positivo embora de menor magnitude (1,6%) (Tabela 1).

            Outros destinos de destaque em termos de volume são Itália (7,5% da fatia total), Bélgica (2,3%), Japão (1,9%), Alemanha (1,7%), Canadá (1,6%) e Portugal (1,3%). Em termos de evolução anual, os destaques foram: Colômbia (+548,9%), Angola (+252,0%), Bolívia (+169,8%) e Polônia (+142,4%). Os países que já foram clientes de produtos da floricultura brasileira em 2007, mas sem registro das transações na base de dados da SECEX durante 2008, são: Gâmbia, Haiti, Irlanda, Noruega, República Dominicana e Venezuela. No conjunto, estes países movimentaram cerca de US$53,1 mil em 2007.

            No sentido inverso, 11 países voltaram a ser importadores da floricultura brasileira (Hungria, Ucrânia, Indonésia, Gana, Guiana Francesa, Egito, Coréia do Sul, Emirados Árabes, Cabo Verde, África do Sul e Israel), movimentando US$69,4 mil em 2008.

            A avaliação do desempenho anual da floricultura brasileira em 2008 confirma, portanto, a perda gradual da competitividade do setor, com crescimento mais que proporcional no valor da importação de produtos de floricultura já indicada em 2007, ao lado de crescimento menos proporcional no valor de exportação. Confirma, também, o deslocamento do pico das exportações de junho para agosto já observado desde 2007. Embora os Estados Unidos continuem absolutos no posto de segundo maior parceiro da floricultura brasileira, há claros sinais de que o produto brasileiro está perdendo o mercado americano nos últimos anos.

            O que fazer para reverter esta situação? Palavra-chave elementar é a competitividade, saber o caminho das pedras para colocar o produto no mercado. Para isso, em meados de 2008, a Missão Técnica do Programa FloraBrasilis visitou a Costa Rica, um caso de sucesso em exportações de flores e folhagens tropicais. A missão, formada por mais de 30 pessoas, dentre elas gestores dos Sebraes da Amazônia, representantes de instituições ligadas ao Agronegócio e ao Meio Ambiente, e empresários e produtores do ramo, passou uma semana no país colhendo as mais diversas informações sobre este caso de sucesso. As lições que os integrantes aprenderam nessa viagem técnica foram: importância do controle de qualidade das plantações, as novas tecnologias de baixo custo, trabalhos com aproveitamento de resíduos, experiências relacionadas à gestão (planejamento e organização) e importância do cooperativismo4.

TABELA 1 - Exportação dos Produtos da Floricultura Brasileira, por País de Destino, 2007 e 2008

País
2007
 
2008
Var. 2008/07 

(%)

US$ FOB
Ranking
Part. (%)
US$ FOB
Ranking
Part. (%)
Part. acumulado (%)
Holanda 
20.223.474
1
57,3
 
22.067.059
1
62,0
62,0
9,1
Estados Unidos 
7.428.815
2
21,1
 
6.376.825
2
17,9
79,9
-14,2
Itália 
2.455.798
3
7,0
 
2.656.913
3
7,5
87,4
8,2
Bélgica 
755.384
5
2,1
 
824.912
4
2,3
89,7
9,2
Japão 
809.744
4
2,3
 
677.723
5
1,9
91,6
-16,3
Alemanha 
608.290
7
1,7
 
622.308
6
1,7
93,3
2,3
Canadá 
638.964
6
1,8
 
586.749
7
1,6
95,0
-8,2
Portugal 
576.660
8
1,6
 
453.304
8
1,3
96,3
-21,4
Chile 
223.928
10
0,6
 
168.452
9
0,5
96,7
-24,8
Uruguai
170.580
13
0,5
 
166.622
10
0,5
97,2
-2,3
Polônia 
59.901
17
0,2
 
145.180
11
0,4
97,6
142,4
México 
195.339
12
0,6
 
134.543
12
0,4
98,0
-31,1
Angola 
35.865
21
0,1
 
126.234
13
0,4
98,3
252,0
Espanha 
328.110
9
0,9
 
102.645
14
0,3
98,6
-68,7
Argentina 
212.442
11
0,6
 
87.848
15
0,2
98,9
-58,6
Dinamarca 
33.336
22
0,1
 
57.606
16
0,2
99,0
72,8
Rep.Tcheca
62.956
16
0,2
 
52.693
17
0,1
99,2
-16,3
Paraguai 
99.204
14
0,3
 
49.494
18
0,1
99,3
-50,1
Equador 
27.835
23
0,1
 
37.450
19
0,1
99,4
34,5
França 
51.557
18
0,1
 
32.880
20
0,1
99,5
-36,2
Hungria 
-
-
-
 
32.760
21
0,1
99,6
-
Reino Unido 
46.467
19
0,1
 
31.986
22
0,1
99,7
-31,2
Índia 
25.300
24
0,1
 
17.862
23
0,1
99,8
-29,4
China 
15.778
27
0,0
 
16.167
24
0,0
99,8
2,5
Ucrânia
-
-
-
 
13.749
25
0,0
99,8
-
Bolívia 
4.098
32
0,0
 
11.056
26
0,0
99,9
169,8
Indonésia 
-
-
-
 
7.500
27
0,0
99,9
-
Gana 
-
-
-
 
6.526
28
0,0
99,9
-
Suíça
64.446
15
0,2
 
5.737
29
0,0
99,9
-91,1
Taiwan
5.030
31
0,0
 
3.754
30
0,0
99,9
-25,4
Tailândia
2.648
33
0,0
 
3.640
31
0,0
99,9
37,5
Grécia 
5.981
30
0,0
 
3.546
32
0,0
100,0
-40,7
Guiana Francesa 
-
-
-
 
2.548
33
0,0
100,0
-
Rússia
38.676
20
0,1
 
2.200
34
0,0
100,0
-94,3
Peru 
2.539
34
0,0
 
2.113
35
0,0
100,0
-16,8
Egito 
-
-
-
 
1.760
36
0,0
100,0
-
Coréia do Sul 
-
-
-
 
1.725
37
0,0
100,0
-
Emirados Árabes 
-
-
-
 
1.471
38
0,0
100,0
-
Colômbia 
131
38
0,0
 
850
39
0,0
100,0
548,9
Cabo Verde 
-
-
-
 
667
40
0,0
100,0
-
Hong Kong 
16.017
26
0,0
 
453
41
0,0
100,0
-97,2
África do Sul 
-
-
-
 
418
42
0,0
100,0
-
Israel 
-
-
-
 
313
43
0,0
100,0
-
Gâmbia 
9.100
29
0,0
 
-
-
-
-
-100,0
Haiti 
1.242
37
0,0
 
-
-
-
-
-100,0
Irlanda 
15.000
28
0,0
 
-
-
-
-
-100,0
Noruega 
2.276
35
0,0
 
-
-
-
-
-100,0
Rep.Dominicana
1.781
36
0,0
 
-
-
-
-
-100,0
Venezuela
23.700
25
0,1
 
-
-
-
 
-100,0
Total
35.278.392
 
100,0
 
35.596.241
 
100,0
 
0,9
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX/MDIC (2009).

            Espera-se que as lições aprendidas pela missão técnica sejam multiplicadas aos demais integrantes da cadeia produtiva visando resultado positivo a curto, médio e longo prazo à floricultura brasileira.

______________________________
1 KIYUNA, I.; ÂNGELO, J. A.; COELHO, P. J. Floricultura: desempenho do comércio exterior em 2007. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 3, n.1, jan. 2008. Disponível em: <http:// www.iea.sp.gov. br/out/verTexto.php?codTexto=9186>. Acesso em: 30 jan. 2008.

2 Considerou-se, nesta análise, o grupo de produtos especificados na Nomenclatura Comum do Mercosul, NCM 06 da SECEX/MDIC. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, EXPORTAÇÃO, IMPORTAÇÃO – MDIC/SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. Exportação, importação e o saldo da balança comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura. Disponível em: <http://aliceweb. mdic.gov.br/consulta_nova/resultadoConsulta.asp>. Acesso em: 12 jan. 2009.

3 O Capítulo 06 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: de Bulbos (bulbos, tubérculos, rizomas, etc.), de Mudas (mudas de plantas ornamentais, de orquídeas, etc.), de Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas, estão incluídos os de não-ornamentais como café, cana e videira, em valores ínfimos.

4 FloraBrasilis. Missão volta da Costa Rica com novas perspectivas para o setor. Disponível em: <http:// www.florabrasilis.org.br/sis.noticias.asp?pasta=1&pagina=29&categoria=4&noticia=36&aplicacao=sim>. Acesso em: 27 fev. 2009.

Palavras-chave: floricultura, comércio exterior, exportação, flores, mercado internacional.

Data de Publicação: 25/03/2009

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
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