Preços agropecuários encerram mês de março em alta de 0,03%

            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 encerrou o mês de março de 2009 em alta de 0,03%. O índice dos produtos de origem vegetal (IqPR-V) fechou com variação positiva de 1,06%, enquanto que o índice dos produtos de origem animal (IqPR-A) terminou o mês com variação negativa de 2,53% (Tabela 1).

            Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, os índices do IqPR e o IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) ficam com variações negativas de 1,32% e 0,17% respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Março de 2009 e Acumulado nos Últimos 12 Meses.
Índice Acumulado
São Paulo
São Paulo - sem cana
Variação Março/09
Acumulado nos últimos 12 meses
Variação Março/09
Acumulado nos últimos 12 meses
IqPR
0,03 % 
4,22 %
-1,32 % 
-1,90 %
IqPR-V
1,06 % 
2,62 %
-0,17 % 
-10,84 %
IqPR-A
2,53 % 
7,56 %
Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            No acumulado dos últimos 12 meses, os resultados dos índices acumulam variações positivas, o IqPR fica com 4,22%, o IqPR-V com 2,62% e o IqPR-A alta de 7,56%. Desconsiderando a cana-de-açúcar do cálculo do índice os resultados têm significativas quedas: o IqPR fecha o acumulado em -1,90% e o IqPR-V fica com variação de -10,84% (Tabela 1).

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Março de 2009.



            Os produtos do IqPR que registraram altas no mês de março, em comparação com o mês anterior foram: tomate (103,58%), ovos (8,96%), trigo (5,02%), laranja para mesa (4,55%) e cana-de-açúcar (1,95%) (Tabela 2).

            A acentuada variação de preços do tomate está de acordo com o padrão de variação estacional observado nos últimos anos. O fim da safra de verão provoca picos de preços nos meses de março e abril e os baixos preços de fevereiro servem de base para a variação extremada.

            A alta do preço dos ovos é decorrente do aumento de consumo, em virtude do período de quaresma, acentuando-se com a aproximação da sexta-feira santa. Contribui para isso também o aumento do desemprego que conduz ao maior consumo de proteína animal de menor elasticidade renda da demanda.

Para a laranja de mesa o maior consumo de suco no verão associado à escassez relativa de produto nesta época do ano impulsionou os preços para cima. Ressalte-se que os preços atuais da fruta estão ainda expressivamente menores que os verificados em igual período de 2008, o que revela uma fase de recuperação.

            Na cana-de-açúcar o impacto mais importante consiste no repasse para os preços da desvalorização cambial, o que ocorre de forma lenta. A elevada volatilidade do câmbio face aos desdobramentos da crise mundial deve ser administrada pela cadeia, que não pode aplicar grandes variações de preços até pela dimensão e extensão da safra. O início da safra 2009-2010 se dá na mesma perspectiva da anterior, sendo a variação cambial a novidade.

            Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços no mês de março foram: feijão (26,12%), laranja para indústria (12,32%), amendoim (10,16%), milho (8,67%), banana (7,07%), soja (5,94%) e carnes de frango e bovina (5,65% e 4,37% respectivamente) (Tabela 2).

            Para o feijão, o recuo dos preços decorre de que, após a safra paranaense ter se normalizado e a quebra absorvida pelo mercado, as colheitas das novas regiões nesta época do ano (como Santa Catarina), estão dentro de padrões normais, com tempo bom favorecendo o trabalho. A relativa sobra de oferta implica em queda dos preços recebidos pelos produtores, também pressionados do lado do consumo menor derivado da crise. De qualquer maneira, a queda dos preços compromete a renda dos produtores, que por não terem produto não fizeram caixa no período de alta do ano passado. Os reflexos em termos de formação de expectativas ruins para as próximas safras podem também prejudicar os consumidores. A gangorra de preços do feijão nos dois últimos anos não interessa nem aos produtores nem aos consumidores, e a intervenção governamental (AGF, PEP e PEPRO) já deveria ter sido iniciada, garantindo aos produtores, ao menos o preço mínimo de R$ 80,00.

            No caso da banana, a variação negativa no período reflete a boa oferta do produto em virtude das condições climáticas favoráveis para a produção, associada à oferta de frutas concorrentes. Com a chegada do outono o tempo de formação dos cachos aumenta e a tendência de preços começa a reverter.

            Nos dois principais grãos, soja e milho, as dificuldades do crédito internacional para alavancar as exportações e a premência da venda da safra em curso pela reduzida capacidade de armazenagem, fatores associados à pressão dos compromissos que estão vencendo numa safra custeada com recursos escassos e alto custo do dinheiro, acabam por produzir ambiente de negócios que reduzindo a margem de manobra dos produtores-vendedores.

            A queda de preços das carnes de frango e bovina é influenciada pela retração das exportações e de redirecionamento da oferta ao mercado interno, numa realidade em que a demanda interna tende a retrair pelo desemprego e com isso deslocando a procura para produtos de menor elasticidade renda da demanda.

            Em março, 5 produtos apresentaram alta de preços (4 de origem vegetal e 1 de origem animal) e 13 apresentaram queda (8 de origem vegetal e 5 produtos de origem animal).

            Na comparação dos preços de março de 2009 com março de 2008, dos produtos analisados, 5 tiveram variações positivas do preço pago ao produtor e 11 apresentaram quedas. As altas registradas no período ficaram por conta dos produtos básicos no item alimentação, na ordem: carne de frango (36,18%), arroz (29,39%), tomate (14,02%), carne bovina (4,92%). A cana de açúcar também teve forte valorização no período de 12,82%, em função dos impactos do mercado internacional do açúcar e da desvalorização cambial.

            Já as maiores variações negativas foram verificadas nas cotações da banana nanica (54,19%), laranja para mesa (42,54%), amendoim (39,68%), carne suína (25,43%), milho (24,16%) e trigo (21,85%) (Tabela 2).

            No caso do feijão e da laranja para indústria que não tem variação dos últimos 12 meses, é devido a falta dos produtos disponíveis pelos produtores naquela época do ano.
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¹A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/03/2009 a 31/03/2009 e base = 01/02/2009 a 28/02/2009.

²Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573

 

Data de Publicação: 06/04/2009

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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