Preços Agropecuários: alta de 8,00% na segunda quadrissemana de março

            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 registrou alta de 8,00% na segunda quadrissemana de Março de 2010. O IqPR-V (produtos de origem vegetal) e o IqPR-A (produtos de origem animal) fecharam com variação positiva de 10,54% e de 1,70%, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1. Variação Percentual do IqPR, Estado de São Paulo, 2ª Quadrissemana de Março de 2010.

São Paulo
São Paulo s/cana
IqPR
8,00 % 
11,34 % 
IqPR-V
10,54 %
20,52 % 
IqPR-A
1,70 % 
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

            Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, o IqPR sobe para 11,34% e o IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) tem expressiva alta e encerra em 20,52%, isto ocorre porque apesar do preço da cana continuar subindo, sua variação foi bem menor do que outros produtos vegetais, principalmente do tomate, da banana e das laranjas (Tabela 1).

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, 2ª Quadrissemana - Março de 2010.

Origem
Produto
Unidade
Cotações (R$)
Variação quadrissemanal (%)
2ª Fevereiro/10
2ª Março/10
VEGETAL
Algodão
15 kg
47,44
48,24
1,67
Amendoim
sc.25 kg
23,11
25,55
10,54
Arroz
sc.60 kg
39,30
36,94
-5,98
Banana nanica
cx.21 kg
6,41
8,80
37,34
Batata
sc.60 kg
...
...
...
Café
sc.60 kg
261,83
259,17
-1,02
Cana-de-açúcar 
t de ATR
332,98
343,67
3,21
Feijão
sc.60 kg
52,22
...
...
Laranja p/indústria
cx.40,8 kg kg
8,78
9,92
12,97
Laranja p/Mesa 
cx.40,8 kg
13,95
23,06
65,23
Milho
sc.60 kg
15,29
14,70
-3,84
Soja
sc.60 kg
35,32
33,84
-4,20
Tomate p/ Mesa
cx.22 kg
18,81
38,04
102,29
Trigo
sc.60 kg
25,00
24,17
-3,33
ANIMAL
Carne Bovina
15 kg
74,30
74,17
-0,18
Carne de Frango
Kg
1,62
1,58
-2,58
Carne Suína
15 kg
46,50
49,75
6,99
Leite B
Litro
0,73
0,76
4,75
Leite C
Litro
0,68
0,71
5,21
Ovos
30 dz
34,79
38,69
11,21

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

            Os produtos do IqPR que registraram as maiores altas nesta quadrissemana foram: tomate (102,29%), laranja para mesa (65,23%), banana nanica (37,34%), laranja para indústria (12,97%), ovos (11,21%) e amendoim (10,54%) (Tabela 2).

            Para o tomate para mesa continua o movimento de alta nos preços, devido às fortes chuvas, que tem impedido uma regularidade mínima da oferta do produto. A alta é acentuada pelo fato do tomate ter tido, no início do ano, as menores cotações dos últimos dez anos. Menores índices pluviométricos e temperaturas mais amenas devem propiciar a recuperação da produção.

            Na laranja de mesa, a ocorrência do verão - elevando o consumo de sucos - associada às chuvas em grande intensidade no segundo semestre de 2009 e início de 2010 prejudicaram as floradas, causando uma diminuição da oferta nesse início de ano que impactou as cotações, recuperando-as. Somado a isso, em fevereiro, com o findar da safra, a oferta desta fruta se reduz de forma significativa, afetando os preços com pressões para alta. Esse fato está refletido também nas cotações da laranja para indústria e associado à recuperação dos preços do suco de laranja nos principais mercados das nações capitalistas desenvolvidas, provocada pelas intensas geadas que atingiram a citricultura norte-americana concentrada na Flórida. Os reduzidos estoques internacionais de sucos cítricos funcionam como alavanca desse aumento de preços, revertendo a conjuntura muito desfavorável que se verificou em 2009.

            Os preços da banana finalmente refletem o resultado das fortes enchentes ocorridas em fevereiro. Uma redução de oferta acrescida de expansão do consumo peculiar no período de outono pode provocar aumentos acentuados dos preços da fruta nas próximas semanas. Os preços da banana estiveram muito baixos durante os meses de verão e a atual recuperação, embora seja elevada, ainda não trouxe os preços ao nível da média dos anos anteriores.

            No caso dos ovos, a redução do alojamento de matrizes verificada no final do ano de 2009 levou à diminuição da oferta de ovos. Associados a esse contexto, cabe destacar: 1) a natural ascensão das cotações nessa época do ano - período da quaresma – quando os ovos substituem as carnes enquanto fonte de proteína; e 2) também o fato de que o ovo constitui insumo fundamental na agroindústria de massas e de confeitaria/panificação, cuja demanda também cresce neste período.

            O aumento no preço do amendoim é atribuído à menor oferta. Houve redução de 20% da área plantada, por causa do atraso na colheita da cana e baixo preço da saca na safra passada.

            Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços na segunda quadrissemana de março foram: arroz (5,98%), soja (4,20%), milho (3,84%), trigo (3,33%) e carne de frango (2,58%) (Tabela 2).

            O início da safra de arroz no Rio Grande do Sul e em outros estados sulistas e do Centro-Oeste derrubaram as cotações do produto, que foi um dos vilões da cesta básica em fevereiro.

            Para a soja, depois de anunciada safra recorde com crescimento de 30% associada ao início da colheita, as cotações do produto recuaram, além das mudanças na economia chinesa que prognosticam menores aquisições desse produto por esse país asiático. Essa tendência dos preços internacionais e os custos do frete podem ampliar as dificuldades econômicas dos produtores das áreas mais distantes da fronteira agropecuária, gerando remuneração líquida abaixo dos custos de produção.

            No caso do milho, a entrada da safra numa situação em que não foram retomadas as exportações brasileiras comparando com a realidade anterior à crise internacional, pressiona os preços para baixo. Esse patamar de preços coloca os produtores de milho numa situação de elevada dificuldade, pois estão muito abaixo dos custos médios de produção. Em algumas regiões do Paraná os produtores encontram dificuldades de estocagem, o que colabora para a baixa dos preços.

            A queda de preços de soja e milho proporciona a redução dos custos de produção de carnes, principalmente do frango, cujos preços apresentaram queda.

            Importante salientar que preços agropecuários em alta em plena colheita da maior safra de grãos indicam impactos inflacionários futuros, os quais não podem ser amenizados pelo aperto monetário. Ao contrário, essa medida pode ter o efeito perverso de dificultar a verdadeira solução que consiste em buscar maior oferta, que o pela sazonalidade da agropecuária e não será uma resposta de curtíssimo prazo.

            Com o final da safra do feijão das águas no sudoeste paulista, poucos produtores tem o produto para comercialização dificultando a pesquisa de preços.

            No período analisado, 11 produtos apresentaram alta de preços (7 origem vegetal e 4 de origem animal) e 7 apresentaram queda (5 vegetal e 2 animal).

___________________________
1 A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 15/02/2010 a 15/03/2010 e base = 16/01/2009 a 14/02/2010.

2 Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573 

Data de Publicação: 18/03/2010

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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