Preços Agropecuários encerram o mês de Setembro em alta de 5,43%

            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 encerrou o mês de Setembro de 2010 com alta de 5,43%. O IqPR-V (grupo de produtos de origem vegetal) registrou elevação de 4,84%, e o IqPR-A (grupo de produtos de origem animal) fechou o mês em alta, também, de 6,88% (Tabela 1).

            Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, os índices IqPR e IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) terminaram o mês com índices positivos, fechando em 9,25% e 11,52%, respectivamente (Tabela 1). Isso decorre do fato de que, sendo o principal produto agropecuário paulista, a cana-de-açúcar, ao manter seu preço estável - acaba puxando para baixo a variação dos índices geral e vegetal de preços. Explica tal comportamento a verificação de que os preços internacionais do açúcar que sustentaram os preços dessa matéria prima desde 2008, agora seguem em ritmo próximo da valorização cambial.

            Para a variação dos índices acumulados nos últimos 12 meses, os resultados mostram expressivas variações positivas para o IqPR de 33,88%, para o IqPR-V (vegetais) de 38,27% e para o IqPR-A (animais) de 21,84%, ou seja, conformando uma realidade de preços muito maiores (Tabela 1). Quando se exclui a cana-de-açúcar, o impacto da alta se torna mais exacerbado para os produtos vegetais que acumulam incremento de 65,66%, elevando o aumento do índice global para 44,17%. Tal comportamento decorre de que os preços da cana-de-açúcar, produto com grande peso no índice agropecuário, cresceu 19,29% nos últimos 12 meses, com o que, sem o seu cômputo, há significativo salto dos preços dos produtos vegetais.

            Duas linhas de explicações devem ser consideradas na análise desses aumentos de preços. A primeira, do lado da oferta, consiste no fato de que 2009 foi um ano de preços demasiadamente baixos, os menores dos últimos anos, para produtos relevantes na composição dos índices, como é o caso das laranjas. Em 2010, tanto a laranja para indústria (162,60%) como para a laranja in natura (127,58%) revela-se significativa recuperação de seus preços (Tabela 2).

            Na mesma linha de raciocínio se tem a alta dos preços do feijão (130,45%), em relação ao ano passado. Neste produto, do lado da oferta, duas ocorrências explicam o aumento exacerbado dos preços recebidos pelos agropecuaristas, que estão muito acima dos custos de produção. A primeira ocorrência segue a mesma linha de raciocínio da análise feita acima para as laranjas, na medida em que os preços do feijão estiveram muito baixos durante todo o ano de 2009 chegando a atingir o piso de R$ 42,00/sc de 60 kg, em plena colheita da safra de verão, em janeiro de 2010. Esse patamar remunerava em torno da metade dos custos de produção. Isso desestimulou o plantio com o que se inicia, nos meses seguintes, um movimento de recuperação de preços com idas e vindas que acabaram conformando em agosto de 2010 preços compatíveis com a remuneração adequada do produto, cobrindo os custos de produção acrescidos de rentabilidade adequada. Aí entra em cena a segunda ocorrência com seca, atrasando o plantio da nova safra das águas, levando a movimentos especulativos, uma vez que se vislumbrou um período de escassez até a entrada de feijão novo, o que deve ocorrer em maior volume no mês de novembro.

            Merecem destaque os incrementos de preços, nos últimos doze meses, do algodão (84,56%) – reflexo da significativa queda dos estoques internacionais em plena entressafra brasileira-, do amendoim (47,55%), da carne de frango (40,49%), da carne suína (29,28%), do café (25,62%) – que vem recuperando preços no mercado internacional após período de preços baixos-, milho (23,59%) e carne bovina (20,89%). Esses produtos tiveram em 2009, na média, preços baixos, o que enseja períodos de recuperação, tanto assim que praticamente todos apresentam preços atuais remuneradores cobrindo os custos de produção com alguma rentabilidade.

            Ainda para carne bovina, o aumento de preços é decorrente, em grande parte, pelo ciclo pecuário (plurianual), já que se está na fase ascendente do ciclo. Entretanto, e apesar deste aumento, é importante destacar que a carne bovina não se tornará um artigo de luxo, diferentemente do que se tem apresentado em um importante congresso internacional de carne e se noticiado pela impressa.



            Mas há que se considerar uma segunda linha de explicação, do lado da demanda. Os preços agropecuários vêem mostrando firme tendência de aumento desde setembro de 2009, movimento acirrado após janeiro de 2010 (Figura 1). Em função do ritmo do crescimento econômico verificado em 2010, com aumento da massa salarial – pelo efeito convergente de redução do desemprego e maior nível do salário médio- há uma significativa e persistente pressão da procura exatamente no momento em que ocorre a entressafra da produção agropecuária (fato que se prolongará até o início da colheita da safra das águas, que para alguns produtos ocorre em novembro e para outros se estenderá até março de 2011). De qualquer maneira, há na conjuntura atual a formação de expectativas que conduzem a preços crescentes, fato que somente será revertido ou não em função da magnitude dos volumes colhidos, do comportamento dos preços internacionais e da resistência das estruturas de mercado: dos consumidores aos movimentos especulativos.

Figura 1. Evolução do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Setembro de 2009 a Setembro de 2010.


 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

            Numa leitura de curto prazo, levando em conta a variação em relação ao mês anterior, os produtos do IqPR que registraram as maiores altas neste mês foram: feijão (54,74%), laranja para mesa (26,02%), algodão (23,11%), milho (20,32%), carne de frango (19,11%) e trigo (18,52%) (Tabela 2).

           Para o feijão, a estiagem prolongada ocasionou perdas na produção e atrasou o plantio e a entrada do feijão novo (em especial nas principais regiões produtoras do Sul-Sudeste). Apesar de se notar certa resistência no atacado aos movimentos exacerbados de elevação, o efeito conjuntural do atraso do plantio pela seca somente será dissipado em novembro com as primeiras colheitas da safra de verão.

            Na laranja de mesa, as pressões da demanda da agroindústria citrícola, no mercado livre de laranja in natura, numa conjuntura de produção menor na presente safra, associada à elevação do consumo com os primeiros dias mais quentes deste segundo semestre, pressionou as cotações da fruta e elevou seus preços. Mas como afirmado na análise da variação anual, até o momento pode-se caracterizar movimento de recuperação, uma vez que estão pouco acima dos custos de produção praticados.

            No algodão, os reduzidos estoques internacionais associados à produção brasileira não suficiente para atender a pressão de demanda, decorrente da economia em crescimento, pressionam os preços internos da fibra para cima, tendência que persistirá até a entrada de produto em volumes substanciais no mercado internacional possibilitando importações. Se isso não ocorrer apenas na colheita da próxima safra - nos primeiros meses de 2011 - haverá reequilíbrio no mercado.

            No milho, trigo e soja, problemas climáticos de seca na Austrália, Rússia e Ucrânia e a nova estimativa americana (com redução na produtividade do milho apesar da safra recorde), elevaram os preços no mercado internacional e criaram expectativas no mercado financeiro de aposta na alta dos alimentos no mercado futuro. Com esses preços continuando com perspectivas de alta nas principais bolsas formadoras dos preços internacionais, nas condições brasileiras superam a valorização cambial, aliviando no curto prazo a queda do poder de compra da moeda nacional.

            O aumento para a carne de frango assim como para carne suína se devem ao crescimento da demanda pelos consumidores no varejo: são produtos substitutos da carne bovina, estando esta última com cotações em ascensão em função de um período de entressafra com estiagem prolongada (ciclo anual), que reduziu a oferta de boi gordo. Ademais na carne de frango, as vendas externas deram impulso mais decisivo aos preços internos: isso tem permitido compensar a elevação dos custos de produção em virtude dos aumentos dos preços do milho e da soja (usados na alimentação destes animais).

            Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços em setembro foram: tomate para mesa (25,57%) e ovos (2,52%) (Tabela 2).

            O tomate, que nas últimas semanas registrou altas nas variações de seus preços, agora registra queda significativa: esta mudança de comportamento se deve às condições climáticas favoráveis (com a estiagem, sol desde meados de agosto até o final de setembro), aliadas à consistente base técnica que constituem fatores de aumento da produção.

            A oferta de ovos vem acompanhando os movimentos da demanda, com suprimento maior que o consumo (seja doméstico, seja na agroindústria de panificação) levando às quedas dos preços.

            Em relação ao mês anterior, 16 produtos apresentaram alta de preços (12 de origem vegetal e 4 de origem animal) e 4 apresentaram queda (2 de origem vegetal e 2 de origem animal).

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1 A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/09/2010 a 30/09/2010 e base = 01/08/2010 a 31/08/2010.

2 Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573

Data de Publicação: 05/10/2010

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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