Setor Sucroalcooleiro Paulista: crise nos empregos em 2014

O setor sucroalcooleiro paulista encerrou o ano de 2014 com 99.842 admissões com carteira assinada. Este número é 25,7% menor ao registrado no ano anterior que totalizou 134.380 admissões. Nota-se que, em todos os meses do ano, o número de admissões é inferior a 2013, inclusive no período de março a junho, quando o setor demanda com maior intensidade trabalhadores tanto para a colheita da cana, quanto para as atividades de processamento nas usinas.

O número de admissões compromete o saldo de emprego (total de admitidos menos os desligados) que registrou em 2014 perda nos estoques de trabalhadores, saldo negativo em 22.551 postos de trabalho formais, e número 18 vezes maior ao ano anterior (Tabela 1).

 


Estas informações são originadas a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que divulga mensalmente o número de admitidos e desligados com carteira assinada em todos os setores da economia brasileira2.

O setor sucroalcooleiro aqui analisado é constituído pelas seguintes atividades definidas pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE2.0)3 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas IBGE: cultivo de cana-de-açúcar (setor agropecuário), fabricação de açúcar em bruto, fabricação de açúcar refinado e fabricação de álcool (atividades do setor industrial). Assim, estas quatro atividades do complexo agroindustrial do açúcar e álcool registram, ano após ano, sucessivas quedas na geração de empregos. Por exemplo, em 2007 o setor era responsável por 262.289 admissões e, em 2014, esse número é 62% menor (Figura 1).

 

 

As estatísticas oficiais do MTE apenas corroboram a crise estabelecida no setor e noticiada há meses. Nos últimos anos, indústrias foram fechadas e trabalhadores perderam seus empregos. Alto custo de produção aliado à perda de competitividade com os preços do açúcar e álcool reforçam a crise do emprego no setor sucroalcooleiro4.

Soma-se isso a crise hídrica dos últimos meses que diminuiu a produção de cana-de-açúcar a ser processada pelas usinas que decidiram interromper suas atividades, ocasionando o menor número de admissões, bem como engrossando o número das demissões. Não apenas nessas usinas processadoras os empregos foram afetados, mas também os empregados em indústrias fornecedoras de peças e equipamentos, como é o caso do município de Sertãozinho, segundo maior município do estado em número de demissões (Tabela 2).

Os trabalhadores do setor sucroalcooleiro em 2013 ligados diretamente às atividades agrícolas, como cortadores de cana-de-açúcar, tratoristas e outros, totalizavam 88.374 admissões (ocupações agrícolas); em 2014, esse número foi 32% menor, 60.905 admissões, acompanhado de um elevado número de demissões (74.041), e o saldo de emprego em 2014 foi negativo, com perda de 13.136 postos de trabalho (Tabela 3).

Lembrando também que os cortadores de cana-de-açúcar pertencentes ao grupo de ocupações agrícolas enfrentam outro problema para a manutenção de seus empregos: o avanço da mecanização na colheita da cana decorrentes da Lei n. 11.241/2002 e do Protocolo Agroambiental, que estabeleceram o fim da erradicação da queima da cana-de-açúcar e consequente adoção de máquinas em substituição ao trabalho manual. Estudo do Instituto de Economia Agrícola avaliou que a mecanização na safra 2013/14 já atinge 84,3% das áreas de cana em produção e que, entre a safra 2012/13 e a atual, foram 18 mil cortadores de cana-de-açúcar a menos demandados para a colheita manual5.

         As ocupações não agrícolas que envolvem os trabalhadores no transporte, serviços administrativos, de processamento nas usinas de açúcar e álcool e outras funções também foram impactados pela crise. Em 2014, foram cerca de 7 mil admissões a menos que em 2013. E o saldo que em 2013 ainda era positivo, ou seja, retinha trabalhadores no setor sucroalcooleiro, no ano de 2014 foi negativo em 9.415 postos de trabalho com carteira assinada.

         Os dados do CAGED também permitem observar como foi o desempenho do setor sucroalcooleiro paulista por regiões administrativas do Estado de São Paulo. A crise do emprego formal é observada em todas as regiões do estado que apresentaram número de admissões em 2014 inferior a 2013. Regiões importantes com altos números de contratações em 2013 diminuíram a demanda por trabalhadores, como Araçatuba, que contratou 6.000 trabalhadores a menos que em 2013. Esse desempenhou afetou, conforme já visto, o saldo de empregos em todas as regiões que perderam estoque de trabalhadores, principalmente Campinas e São José do Rio Preto, com perdas superiores a 3 mil postos de trabalho formalizados (Tabela 4).

 

 


O setor sucroalcooleiro enfrenta, portanto, uma das maiores crises no emprego e que se arrasta há anos. Medidas tomadas para atenuar os efeitos sobre o desemprego dos trabalhadores, como aconteceu no município de Sertãozinho, podem ser avaliadas e replicadas para outros municípios6. Ações municipais foram tomadas para minimizar os efeitos do desemprego, como negociação de dívidas em bancos, oferecimento de cestas básicas a preço de custo, manutenção de planos de saúde ao titular e beneficiários, mesmo demitidos entre outras ações7.

Medidas que não revertem a situação de desemprego no setor, mas a curto prazo possibilitam atenuar o efeito desastroso que se abateu sobre os trabalhadores.


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1
Resultado do projeto cadastrado no SIGA, NRP-4874, “Cadeia Produtiva da Cana-de-açúcar”.

 

2MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO - MTE. Banco de dados. Brasília: MTE. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-pdet/>. Acesso em: 11 mar. 2015.

 

3CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADES ECONÔMICAS - CNAE. Banco de dados. Brasília: CNAE. Disponível em: <http://www.cnae.ibge.gov.br>. Acesso em: mar. 2015.

 

4TOLEDO, M. Setor sucroenergético deve chegar a 60 usinas fechadas no país neste ano. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 mar. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1600714-setor-sucroenergetico-deve-chegar-a-50-usinas-fechadas-no-pais-neste-ano.shtml>. Acesso em: 17 mar. 2015.

 

5FREDO, C. E. et al. Mecanização na colheita da cana-de-açúcar atinge 84,8% na safra agrícola 2013/14. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 10, n. 2, fev. 2015. Disponível em: <http://
www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13601>. Acesso em: mar. 2015.

 

6MOREIRA, R. Com usinas em crise, Sertãozinho faz pacto para reduzir demissões. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 9 jan. 2015. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,com-usinas-em-crise-sertaozinho-faz-pacto-para-reduzir-demissoes-imp-,1617359>. Acesso em: 17 mar. 2015.

 

7PACTO social pelo emprego: administração municipal e entidades trabalhando para amenizar a crise. São Paulo: Prefeitura Municipal de Sertãozinho. Disponível em: <http://www.sertaozinho.sp.gov.br/conteudo/pacto-social-pelo-emprego-administracao-municipal-e-entidades-trabalhando-para-amenizar-a-crise.html>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Palavras-chave: CAGED, setor sucroalcooleiro, emprego formal.

Data de Publicação: 31/03/2015

Autor(es): Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor