O Agronegócio Florestal em Setembro de 2015

1 - Introdução

A área cultivada nas Unidades de Produção Agropecuárias (UPAs) do Estado de São Paulo é de cerca de 21,5 milhões de hectares, sendo 1,0 milhão de hectares com eucalipto, 144 mil com pinus e 90 mil com seringueira1. Mas há, também, cerca de 4 milhões de hectares de florestas nativas, o que complementa a real dimensão do universo florestal paulista.

Além dos serviços sistêmicos e dos subprodutos fornecidos pelas florestas, a madeira “em pé” pode ser adquirida para fins energéticos (lenha, cavacos e carvão) ou para produção dos chamados “produtos madeireiros”, em que se distinguem três canais (Figura1):

a)  Madeira industrial (processo), em que são produzidas pastas celulósicas e chapas.

b)  Tratamento, que são preparadas para uso na construção rural, civil e infraestrutura.

c)  Processamento mecânico ou serraria e laminadoras.

2 - Desempenho das Cotações de Segmentos do Mercado Madeireiro

Em São Paulo, os preços dos produtos florestais continuaram oscilando em setembro de 2015 até pelo agravamento da crise econômica, principalmente no setor industrial. Com exceção da madeira para processamento, cujas cotações se mantiveram estáveis com relação aos meses anteriores, em setembro as cotações dos produtos florestais aumentaram (Figura 2).

 

 

Os maiores acréscimos, em relação a agosto, foram para as madeiras para tratamento (12,72%), setor que vai razoavelmente bem e tem reflexos positivos nos mercados madeireiros capitaneadas pela pecuária, cuja modernização demanda muita cerca e, portanto, madeira tratada. O subsetor de serraria (4,38%), segmento para o qual a demanda por madeira manteve-se firme de modo que o acréscimo na cotação reflete a pequena disponibilidade de matéria-prima em algumas regiões.

O preço recebido pela madeira para energia, em setembro, teve um pequeno acréscimo (3,13%) passando de R$42,44/m3 para R$43,77/m3(Figura 2).

Apesar dos segmentos ligados à exportação, que se beneficiaram da taxa de câmbio favorável, como é o caso da celulose, esses efeitos não se refletiram nas cotações, muito em função do autoabastecimento dessas indústrias. O setor de chapas reconstituídas, por outro lado, aparentemente sofre as consequências de um possível sobreinvestimento, mantendo inalteradas as cotações de madeira para processo.

Segundo Zakia (2014)2, no Brasil, o consumo de madeira para energia é um dos mais significativos do mundo, situando-se entre 123 e 150 milhões de metros cúbicos. Uma das razões para o uso intenso da madeira para energia no País refere-se à produção de carvão vegetal, sendo o Brasil líder mundial na fabricação desse insumo (8 a 10 milhões de toneladas anuais ou o equivalente a cerca de 60 a 70 milhões de m³ de madeira), sobretudo visando ao atendimento da indústria siderúrgica, onde é utilizado como insumo termorredutor para transformação do minério de ferro em ferro-gusa.

Montoya (2014)3 obteve informações do Sindicato do Comércio Varejista de Carvão e Lenha no Estado de São Paulo (SINCAL) de que a produção paulista de carvão gira em torno de 20 mil toneladas por mês.

Parte significativa da madeira para energia abastece o setor comercial, como as churrascarias, e o setor residencial, que abrange inclusive o consumo em fogão a lenha e lareiras, bem como o setor agrícola, onde é utilizada para a secagem de grãos.

Volume ainda pouco expressivo, mas em crescimento, destina-se às termoelétricas para produção de eletricidade. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)4 em outubro existiam 11 usinas produzindo energia elétrica a partir dos produtos da floresta totalizando 2.521.323 kW. Embora esse potencial de geração corresponda apenas a 1,7% da matriz elétrica brasileira, destaca-se que em 2013 existiam apenas 14 usinas térmicas movidas a licor negro e 45 com madeira e seus resíduos, fornecendo 866.404 kW, o que significa um crescimento de 191% na participação da geração de energia elétrica brasileira e uma maior diversidade de subprodutos florestais destinados a esse segmento de mercado (Figura 3).

 

 A procura por mudas para plantio esteve constante e aparentemente há um crescimento por mudas de nativas em função das questões relativas à recomposição das áreas de reservas e áreas de proteção permanente (APPs), resultantes do Cadastro Ambiental Rural (CAR). 

3 - Informes

Com o adiamento para maio de 2016 da entrega do CAR houve uma redução na procura por elaboração dos projetos o que tem permitido maior preparo das equipes da SAA, dos municípios e das cooperativas. Estima- se que 60% das áreas das propriedades já estejam cadastradas, porém, supostamente ainda com níveis de incorreções muito grande, dada a relativa complexidade do cadastro.

A Câmara Setorial e Temática de Florestas Plantadas já apresentou um estudo prévio do Plano Nacional de Desenvolvimento de Árvores Plantadas (PNAP), uma das principais ações que vem sendo desenvolvidas pelo Ministério da Agricultura desde o fim do ano passado, quando a pasta passou a ser oficialmente responsável pelo setor, antes vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Para alcançar as metas do crescimento do setor, foram identificadas 17 iniciativas e priorizadas 8 delas5, a saber:

a)   Desburocratizar e agilizar o processo de concessão de licenças ambientais.

b)   Melhorar a infraestrutura e a eficiência da matriz de transporte.

c)   Retirar as exigências para a aquisição de terras por estrangeiros.

d)   Permitir a terceirização da mão de obra na atividade fim.

e)   Desburocratizar o registro de agroquímico para a silvicultura.

f)   Fomentar o uso de madeira na construção civil.

g)   Estabelecer políticas públicas para aumentar o uso de bioenergia a partir de arvores plantadas

h)   Melhorar a oferta de crédito para empresas do setor.

Vale realçar que tais propostas ainda são preliminares e estão abertas para discussão, com participação dos interressados. Em breve serão disponibilizadas as audiências publicas6.

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1SÃO PAULO (Estado). Secretaria de agricultura e Abastecimento. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Instituto de Economia Agrícola. Levantamento censitário das unidades de produção agropecuária do Estado de São Paulo -  Projeto LUPA 2007/08. São Paulo: SAA/CATI/IEA, mar. 2009.

2ZAKIA, M. J. B. Florestas nativas ou mistas com finalidade econômica. Casa de Agricultura, São Paulo, p. 11-13, 2014.

3MONTOYA, J. Carvão vegetal: uma fonte energética das mais antigas que ainda requer padronização e investimentos na produção. Casa da Agricultura, São Paulo, ano 17, n. 2, p. 38-40, 2014.

4AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Banco de dados. Brasília: ANEEL. Disponível em: <http://www.anaeel.gov.br>. Acesso em: 14 out. 2015.

5PLANO Nacional de desenvolvimento de árvores plantadas. Brasília: MAPA/IMA/GCM. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_setoriais/Florestas_plantadas/29RO%20CERTA/pnap.pdf>. Acesso em: out. 2015.

6Op. cit. nota 5.

 

Data de Publicação: 22/10/2015

Autor(es): Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Adriana Damiani Correia Campos (adccampos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor