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Vinhos finos brasileiros em busca do mercado externo
Os vinhos brasileiros têm sido reconhecidos em concursos nacionais e alguns internacionais. Este reconhecimento é fruto do esforço das vinícolas que investiram em tecnologia e varietais européias para melhorar a qualidade do vinho. Algumas vinícolas vêm tentando colocar os vinhos brasileiros no mercado externo, devido à limitação da demanda interna, cujo consumo per capita é de 2 litros.
No Brasil, a produção de uvas destinadas ao vinho está localizada, principalmente, na região das Serras Gaúchas. Cerca de 95% dos vinhos brasileiros são produzidos no Rio Grande do Sul, com predominância do tinto, ou seja, 77,4%. A produção do rosado é de 15,25% e a de vinho branco, de 7,3%.1
Na região das Serras Gaúchas, a vitivinicultura abrange uma área de 27,0 mil hectares e 620 vinificadoras, de acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN).2 O total de vinhos produzidos no Brasil, considerando-se a produção adicional de vinhos comuns ou de mesa, foi de 270,7 milhões de litros em 2005, segundo a UVIBRA3 . Deste volume, somente 37,5 milhões de litros são vinhos finos, obtidos através do processamento de varietais européias.
O consumo de vinhos finos no Brasil (resultado da produção mais importação) foi de 59,4 milhões de litros em 2005 (tabela 1).
Tabela 1 – Produção brasileira de vinhos finos e importação (milhões de litros)
2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | |
Importado | 29,3 | 28,0 | 24,2 | 26,8 | 36,0 | 37,5 |
Nacional (finos) | 34,1 | 28,6 | 25,4 | 23,3 | 19,7 | 21,9 |
Total | 63,4 | 56,6 | 49,6 | 50,1 | 55,7 | 59,4 |
A produção brasileira de espumantes, em 2005, atingiu um volume de 6,7 milhões de litros e o consumo total, adicionando-se a importação, foi de 10,1 milhões de litros (tabela 2).
Tabela 2 – Produção brasileira de espumantes e importação(milhões de litros)
2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | ||
Importado | 1,8 | 1,9 | 2,4 | 2,5 | 3,0 | 3,4 | |
Nacional | 4,3 | 4,5 | 4,2 | 4,8 | 5,5 | 6,7 | |
Total | 6,1 | 6,4 | 6,6 | 7,3 | 8,5 | 10,1 |
Apesar de todo o empenho das vinícolas brasileiras na melhoria da qualidade dos vinhos finos, a exportação ainda está no patamar de 403,3 mil hectolitros. O volume ainda é baixo, tendo em vista que o Chile exportou 41,7 milhões de hectolitros e a Argentina, 2,1 milhões, em 20054 (tabela 3).
Tabela 3 – Exportações de vinhos e espumantes, 2004-05 (mil hectolitros)
2004 | 2005 | |
Chile | 46.752,4 | 41.790,3 |
Argentina | 1.553,4 | 2.147,7 |
Brasil | 313,8 | 403,3 |
A competição no mercado externo é bastante acirrada. Os vinhos do Velho Mundo, ou europeus, respondem por mais de 50% das exportações globais. Os chamados vinhos do Novo Mundo - provenientes de Chile, Argentina, Nova Zelândia, Austrália e Califórnia - apresentam qualidade já reconhecida que lhes garanteparticipação no mercado internacional.
Itália (23,5%), França (23,1%), Espanha (15,2%) e Áustria (5,7%) estão entre os principais países exportadores. Na América do Sul, destacam-se o Chile (4,7%) e a Argentina (1,3%).5 As exportações brasileiras de vinhos finos apresentaram incremento significativo, entre 2000 e 2005, de 86,9 mil para 392,1 mil litros, refletindo os resultados do esforço conjunto das vinícolas brasileiras (tabela 4).
Tabela 4 – Exportação de vinhos de mesa, finos e espumantes brasileiros (mil litros)
2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | |
Vinhos Mesa | 6.288,0 | 3.463,0 | 2.250,0 | 1.380,0 | 2.802,0 | 3.530,1 |
Vinhos finos | 86,9 | 48,8 | 56,7 | 21,7 | 137,0 | 392,1 |
Espumantes | 265,7 | 81,9 | 46,2 | 75,6 | 198,9 | 111,0 |
Total | 6.640,6 | 3.593,7 | 2.352,9 | 1.467,3 | 3.127,9 | 4.033,2 |

Estudo do cadastro de vinícolas do Rio Grande Sul identificou os diferentes grupos estratégicos através de análise de cluster.6 Entre esses grupos, estão presentes vinícolas com perfil internacional, das quais a maioria é de empresas especializadas por produtos de maior valor agregado (86,9% de vinhos finos e 87,4% de espumantes).
Neste grupo, estão presentes as vinícolas que se associaram para promover o vinho brasileiro através da Wines from Brazil.7Trata-se de projeto integrado de exportação de vinhos, que reúne a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), o IBRAVIN e o governo do Estado do Rio Grande do Sul.
São exemplos as vinícolas Miolo e Salton, que se modernizaram, buscaram novas tecnologias e conhecimento para melhorar a qualidade e a colocação dos seus vinhos no mercado. Um quadro de premiações desses vinhos pode ser visto na tabela 5.
Tabela 5 – Total de premiações dos vinhos das empresas Miolo e Salton, 2001-2005
Ano | Miolo | Salton |
2001 | 7 (prata =3, bronze =2, diploma =2) | 6 ( ouro = 1, prata =3, bronze = 2) |
2002 | 25 (ouro =11, prata =9, bronze =4, diploma =1) | 18 (ouro =5, prata = 6, bronze = 6, diploma = 1) |
2003 | 10 (ouro = 4, prata = 5, bronze =1) | 14 (ouro =5, prata =7, bronze =6, diploma =1) |
2004 | 25 (ouro = 6, prata = 15, bronze = 1, diploma = 2) | 36 (ouro = 10, prata = 17, bronze =6, diploma = 3) |
2005 | 11 (ouro = 1, prata = 8, bronze = 1, diploma = 1) | 24 (ouro = 1, prata =14, bronze = 2, diploma = 7) |
Estes resultados indicam que as vinícolas brasileiras têm investido na busca da qualidade do produto, com o objetivo de competir com os vinhos importados que chegam às prateleiras do mercado brasileiro, bem como de buscar o mercado externo. Os vinhos brasileiros entram gradativamente no mercado internacional. Este resultado deve-se ao reconhecimento de sua qualidade presente em premiações obtidas em concursos nacionais e internacionais e decorrente do esforço conjunto de empresários brasileiros através de projetos de marketing.
O projeto exportação Wines from Brazil foi um primeiro passo na estratégia de internacionalização. Porém, há ainda muito a fazer para se atingir um mercado externo mais amplo. A união das empresas num projeto comum de marketing é fundamental para ampliar a presença brasileira no mercado externo, assim como o contínuo investimento em tecnologias com foco na qualidade do produto.8
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1 SATO,G.S. Panorama da Viticultura no Brasil. Informações Econômicas, v.30, n.11, nov. 2000
2 IBRAVIN: http://www.ibravin.org.br
3 UVIBRA: http://www.uvibra.com.br/pdf/comercializacao2000a2005.pdf
4 Asociación de Viñas de Chile: http://www.vinasdechile.cl/estadistica/comunicado.php
5 PALERMO et. al. Uma análise da competitividade e da Inserção Argentina no Mercado Mundial de Vinhos. Anais do II congresso de administração ESPM, vol.2, 2005.
6 MIELE, M. et AL. Segmentos de concorrência na vitivinicultura gaúcha: análise de conglomerado a partir de cadastro vinícola. Anais do XLVIII Congresso da SOBER, Ribeirão Preto, jul. 2005.
7 http:winesfrombrazil.com
8 Artigo registrado no CCTC- IEA sob número HP-54/2006.
Data de Publicação: 15/08/2006
Autor(es): Geni Satiko Sato (sato@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor