Café: arábica não sustenta alta com aumento de oferta de origem

            A oferta do café robusta manteve-se limitada em setembro, sustentando a alta nas cotações nos últimos três meses. Já as cotações do arábica voltaram a se reduzir devido ao aumento de oferta na origem e melhoria das condições climáticas no Brasil, o que favorece o florescimento para a próxima safra.
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações médias do arábica caíram 1,62%, em relação a agosto (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta aumentou 6,22% (igualmente para a segunda posição). No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica recuou 1,88% (segunda posição). E o indicador OIC-Composto diário subiu apenas 0,21% em relação à média do índice de agosto (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2004 a 2006 

Fonte: Bolsas de NY, Londres, BM&F e OIC1

            O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque subiu para US$ 15,57 a saca, cerca de 0,52% superior à média do mês anterior. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Cotações médias mensais do café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F (São Paulo), 2005-06 

Fonte: Bolsas de NY e BM&F

            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte alta nos primeiros dias de setembro para cair abruptamente até meados do mês, quando iniciaram uma contínua recuperação até o final do mês (gráfico 3).

Gráfico 3 - Cotações diárias em setembro de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição 

Fonte: Bolsa de NY, a partir de dados compilados da GM

            No mercado de robusta na Bolsa de Londres, o comportamento das cotações variou de alta na primeira quinzena de setembro a forte queda na seqüência, para iniciar a recuperação a partir do terceiro decênio. O crescimento da cotação média de setembro ocorreu devido à menor oferta do produto no mercado internacional no mês (gráfico 4).

Gráfico 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de setembro de 2006 

Fonte: Bolsa de Londres, a partir de dados compilados da GM

            Na BM&F, tendo setembro como referência, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca, indica variações positivas acumuladas de 0,62% no ano e de 9,76% nos últimos doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram alta de 6,19% no ano e de 12,80% no acumulado de doze meses. Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, aumentaram 33,19% em 2006 e 66,04% nos últimos doze meses, Já a estimativa do OIC-Composto apresentou alta acumulada de 10,87%, em 2006, e de 21,83% no período de um ano.
            Ao comparar a cotação média anual nos últimos sete anos das cotações nos três mercados, é possível verificar as tendências de curto e longo prazos para as quatro cotações em análise. Assim, a cotação média do arábica na bolsa de Nova Iorque, no período de janeiro a setembro, é cerca de 1,68% menor que a do mesmo período de 2005. Já a cotação do café robusta em Londres é 23,36% superior á média de 2005 (gráfico 5).

Gráfico 5 – Cotações médias anuais para o café em diferentes mercados, 2000 – 2006 

Fonte: Elaborada pelos autores


            Na cafeicultura paulista, a cotação média do arábica subiu 1,66% em relação a agosto, em função basicamente da desvalorização do real observada no mês. Houve alta acumulada de 0,28% nos últimos doze meses e queda de 4,03% em 2006, refletindo o comportamento das cotações internacionais do arábica e da valorização da moeda brasileira. As cotações médias anuais dos preços recebidos pelos cafeicultores paulistas mostram que, em 2006, o valor nominal está 11,70% inferior ao de 2005, provavelmente influenciado pela expressiva safra observada neste ano (gráfico 6).

Gráfico 6 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Ao comparar as cotações médias anuais dos preços recebidos pelos cafeicultores paulista, verifica-se que em 2006 o valor nominal da cotação está 11,70% inferior ao de 2005, provavelmente influenciado pela expressiva safra observada neste ano (gráfico 6).

Gráfico 6 - Preços médios anuais do café arábica recebidos pelos produtores paulista, 2002-06 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Cafeicultura impulsiona vendas de tratores

            Entre janeiro e agosto, foram vendidos 13.035 tratores de rodas no mercado interno, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA)². Cerca de 67% têm potência abaixo de 99 CV, dos quais 6% com potência até 49 CV, esses últimos com utilização bastante disseminada na cafeicultura. Portanto, mais que a cana e a laranja, o café e as culturas mais intensivas, como as frutas, são os de maior peso na recuperação das vendas de máquinas agrícolas automotrizes para o mercado interno (tabela 1).

Tabela 1 – Vendas de máquinas agrícolas automotrizes, mercado interno, jan.ago. 2006

Marca
Até 49 CV
Entre 50 e 99 CV
Total das Vendas
Agrale
464u.
63%
205u.
27%
745u.
100%
New Holland
-
-
1647u.
64%
2.576u.
100%
AGCO
-
-
3.503u.
86%
4.406u.
100%
John Deere
-
-
387u.
36%
1.085u.
100%
Valtra
-
-
1.718u.
44%
3.834u.
100%
Outras
327u.
44%
422u.
56%
749u.
100%
Total
791u.
6%
7.892u.
61%
13.035u.
100%
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de www.anfavea.com.br

            Essa retomada das vendas para o mercado interno poderá se intensificar até o final do ano, pois o comércio de máquinas agrícolas é eminentemente sazonal. As maiores vendas de tratores de rodas ocorrem a partir do segundo semestre do ano.

Exportações brasileiras por tipo de café

            As exportações brasileiras por tipo de café mantêm a tendência anteriormente já verificada, ou seja, restrições nos embarques e pequena recuperação nos preços e, conseqüentemente, nos valores apurados pelas transações efetuadas. Em termos de volumes, as maiores quedas foram observadas para os tipos conillon (10,86%) e solúvel (18,07%). Os mesmos tipos apresentaram as maiores valorizações em termos de preços médios (27,50% para o conillon e 24,28% para o solúvel). Isto é bastante razoável, uma vez que o robusta é matéria-prima fundamental na indústria de solubilização (tabela 2).

Tabela 2 – Volume, valor e preço médio das exportações brasileiras de café por tipo, jan.set/2005 e jan.set./2006

Período
Conillon
Arábica
Torrado
Verde
Solúvel
Total
Volume (sc 60kg)
Jan-Set./05
875.974 
15.946.436 
42.871 
16.865.281 
2.593.779 
19.459.060 
Jan-Set./06
780.859 
15.756.444 
62.136 
16.599.439 
2.125.067 
18.724.506 
Var%
-10,86
-1,19
44,94
-1,58
-18,07
-3,77
Receita (em US$1.000)
Jan-Set./05
58.674 
1.805.391 
8.940 
1.873.005 
272.497 
2.145.502 
Jan-Set./06
62.035 
1.879.430 
14.641 
1.956.105 
278.808 
2.234.913 
Var%
5,73
4,10
63,77
4,44
2,32
4,17
Preço Médio (US$/sc)
Jan-Set./05
63,05
113,74
205,90
111,19
105,17
110,35
Jan-Set./06
80,38
119,17
225,23
117,86
130,70
119,35
Var%
27,50
4,77
9,39
6,00
24,28
8,16
Fonte: Elaborado a partir de dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)3

            Em termos totais, o período considerado revela queda de 3,77% nas exportações. Porém as receitas tiveram incremento de 4,17% apoiadas por crescimento de 8,16% nos preços médios recebidos. São promissores os resultados das exportações de café torrado e moído, com aumento de 44,94% no volume e de 63,77% na receita. Isto evidencia que existem espaço e oportunidades interessantes para os negócios internacionais envolvendo esse que é o produto com maior valor agregado na pauta do agronegócio café.4

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1 Dados básicos da Gazeta Mercantil.
2 ANFAVEA: www.anfavea.com.br
3 CECAFE: www.cecafe.com.br
4 Artigo registrado no CCTC-IEA sob o número HP-107/2006.

Data de Publicação: 19/10/2006

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor