Camarão e lagosta: restrições americanas e expansão do comércio com a Europa.

            As exportações brasileiras de crustáceos evoluíram de US$ 92,3 milhões em 1996 para US$ 327,5 milhões em 2003, um acréscimo de 243,8%. Tal evolução foi basicamente determinada pelo crescimento de 622,9% no valor das exportações de camarão, no mesmo período, quando passou de US$ 33,8 milhões para US$ 244,5 milhões. O crescimento de 20 vezes na quantidade exportada, que evoluiu de 3,0 mil toneladas em 1996 para 60,8 mil toneladas em 2003, evidencia a prática de preços decrescentes resultantes da ampliação da escala de produção e comercialização do camarão nordestino.
            O rápido avanço do crustáceo brasileiro no mercado dos Estados Unidos gerou a acusação de dumping e a adoção de prática protecionista por parte do Departamento de Comércio daquele país. A sobretaxa foi resultado de ação antidumping iniciada em 31 de dezembro de 2003 pelos pescadores da Aliança de Camarões do Sul dos Estados Unidos contra os seis maiores fornecedores do crustáceo para o mercado americano: Brasil, China, Índia, Tailândia, Vietnã e Equador ¹. Como resultado, as exportações brasileiras de camarão declinaram para 33,9 mil toneladas (US$ 154,4 milhões) em 2006, afetando a exportação total de crustáceos que caiu para US$ 248,1 milhões.
            A quantidade de lagosta exportada pelo Brasil permaneceu relativamente constante ao longo do período (variou entre 1,7 mil e 2,8 mil toneladas). Já o valor exportado cresceu de US$ 55,2 milhões em 1996 para US$ 65,3 milhões em 2003 e US$ 83,6 milhões em 2006, evidenciando a obtenção de maiores preços (tabela 1).

 

Em 1996, o Japão (com 75,5% do valor total) e os Estados Unidos (com 18,8% do valor) importavam quase todo camarão comercializado no exterior pelo Brasil. A partir de 1999, as exportações para a Europa e os Estados Unidos passaram a crescer em escala geométrica. Em 2003, ano de pico, as empresas brasileiras enviaram 21,3 mil toneladas de camarão aos Estados Unidos, 15,8 mil toneladas à França, 15,3 mil toneladas à Espanha e 5,8 mil toneladas à Holanda.

A Europa já se tornara o principal destino do produto brasileiro. Com a adoção da sobretaxa americana, as exportações para aquele país declinaram para apenas 571 toneladas (US$ 3,4 milhões) em 2006. Ao mesmo tempo, as importações européias declinaram ligeiramente (em 2006 em relação a 2003), mas ampliaram sua participação relativa para mais de 90% do total, mudando radicalmente a pauta de exportações do camarão brasileiro em relação ao final do século passado (tabela 2). Assim, o protecionismo americano acelerou a tendência já observada em 2003 ².

 

           O camarão cultivado brasileiro é relativamente novo no mercado internacional. Entretanto, já adquiriu massa crítica para gerar interesses econômicos e comerciais e começa a ganhar reputação pela sua qualidade sanitária ao apresentar-se livre dos vírus da Mancha Branca (WSSV) e da Cabeça Amarela (YHV) e isento de antibióticos e outros químicos nocivos à saúde do consumidor. Neste aspecto, compete favoravelmente com o camarão proveniente dos países asiáticos.
            A indústria brasileira tem duas vantagens competitivas sobre diversos outros produtores: a qualidade superior de sua matéria-prima e a capacidade da indústria de produzir e ofertar camarões com regularidade durante todos os meses do ano. Com a adoção de uma série de medidas para elevar e garantir qualidade, obtenção de selo de certificação e campanha de marketing, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABACC) pretende consolidar e expandir o mercado conquistado pelo produto brasileiro, buscando ainda explorar o mercado potencial de camarões processados ³.
            Ao contrário do camarão, a produção brasileira de lagosta decresceu nos últimos anos (de 11 mil toneladas em 1991 para 6,9 mil toneladas em 2005), o que explica a estabilidade da quantidade exportada e o aumento do valor no período 1996 a 2006, refletindo o aumento de preços.
            O Ceará, maior exportador brasileiro, teve sua produção de lagosta reduzida de 7 mil toneladas para 2,9 mil toneladas, segundo a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap). O Estado está adotando medidas disciplinadoras da captura marítima visando garantir a reprodução e o desenvolvimento do crustáceo. Como conseqüência, a pauta de exportação de lagosta concentrou-se mais ainda nos Estados Unidos, que responderam por 94% do valor total em 2006 (tabela 3).

 

Conclui-se que o crescimento das exportações brasileiras de crustáceos depende da aplicação e consolidação das medidas propostas pelos produtores de camarão, particularmente daquelas relacionadas à qualidade e à certificação, fundamentais para expansão das remessas ao sofisticado mercado europeu.4

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¹ Exportação de camarão do Brasil aos EUA terá sobretaxa. Disponível em http://www.estadao.com.br/economia/noticias/2004/dez/20/150.htm
² Camarão brasileiro troca Estados Unidos por Europa. Jornal O Valor. Disponível em: http://www.seagri.ba.gov.br/noticias.asp?qact=view&exibir=clipping&notid=2035.
³ Conceitos básicos para promoção das exportações de camarão. Disponível em: http://www.abccam.com.br/apex/histproj-apex.doc
4 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-19/2007.


Data de Publicação: 22/03/2007

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor