Perspectiva da Produção de Ovinos no Estado de São Paulo

            O crescimento da produção de ovinos no Estado de São Paulo tem acontecido juntamente com investimento em melhora genética do rebanho. Ações da Associação Paulista de Criadores de Ovinos (ASPACO) em regiões do estado têm sido favoráveis a essa evolução com a adesão da associação ao Programa de Melhoramento Genético da Raça Santa Inês para melhor desempenho dos rebanhos ovinos.

            A implantação de Núcleos Regionais, formados por grupos de criadores organizados com o intuito de unir esforços para desenvolver a ovinocultura regional viabiliza compras conjuntas de insumos, melhora da estrutura da produção e comercialização da carne ovina assim como possibilita a padronização, qualidade e escala de abate (SILVA, 2007)1.

            O Estado de São Paulo, entre 1995 e 2006, observou um crescimento do rebanho da ordem de 75,04%, que foi resultado dos investimentos na produção nos últimos anos. Isso ocorreu devido à escassez dessa carne no mercado, visto que a produção paulista atende em torno de 10% da demanda do produto, havendo necessidade de importação de outros estados, como Rio Grande do Sul e de outros países, principalmente do Uruguai.

            O aumento da produção de carne de ovinos no Estado de São Paulo proporciona um crescimento da participação socioeconômica deste setor. A facilidade de sua criação e o aumento do mercado têm sido uns dos aspectos positivos para a ampliação da produção.

            Para se ter uma melhor idéia de sua evolução basta ver que o Estado de São Paulo, atualmente, é o sétimo em tamanho de rebanho no país, atrás dos Estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraná, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2. Em 1985 e 1995 ocupava a nona e a décima posição, respectivamente (Tabela 1).

            O rebanho paulista difere do nordestino no que se refere à qualidade e a padronização. Enquanto no Nordeste, tradicional região de criação de ovinos e onde se concentra a maior produção brasileira, não há padrão na produção e a carne é principalmente para consumo de um público ainda pouco exigente, na Região Sul o produto é de qualidade superior para atender um consumidor mais exigente, diferente do nordestino. Na Região Sudeste, que vem se destacando no mercado, ocorre ampliação do rebanho e investimentos em um produto de melhor qualidade com destaque para o Estado de São Paulo (Tabela 2).

Tabela 1 - Ranking da Produção de Ovinos nos Estados Brasileiros, 1985,1995 e 2006

   
1985
     
1995
     
2006
N. UF
Rebanho
(n. cabeças)
  N. UF
Rebanho
(n. cabeças)
  N. UF
Rebanho
(n. cabeças)
1 RS
8.394.915
  1 RS
5.081.387
  1 RS
3.326.584
2 BA
1.979.010
  2 BA
2.007.356
  2 BA
2.663.818
3 CE
1.634.808
  3 CE
1.606.093
  3 CE
1.556.574
4 PI
1.063.401
  4 PI
1.295.805
  4 PI
1.317.279
5 PE
545.303
  5 PE
671.177
  5 PE
943.016
6 PB
367.014
  6 PR
574.752
  6 PR
484.948
7 RN
338.206
  7 PB
438.430
  7 SP
460.746
8 PR
336.123
  8 RN
385.560
  8 PB
438.735
9 SP
234.641
  9 MS
346.431
  9 RN
400.544
10 MS
204.453
  10 SP
263.217
  10 MT
348.724
Fonte: IBGE.

Tabela 2 - Evolução do Rebanho de Ovinos por Região e Brasil, 1995 e 2006

Região
1995(A)
n. de cabeças
2006(B)
n. de cabeças
B/A%
Norte
280.546
395.345
40,92
Nordeste
6.717.980
7.752.139
15,39
Sudeste
434.054
763.617
75,93
Sul
5.858.833
3.998.753
-31,75
Centro-Oeste
668.290
946.893
41,69
Brasil
13.954.555
13.856.747
-0,70
Fonte: IBGE.

            Para a evolução do rebanho paulista, no que diz respeito ao aumento da produção e melhoramento genético, foi importante o trabalho de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias próprias às condições do estado desenvolvido principalmente pelo Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o qual desenvolve o Programa de Consolidação da Ovinocultura no Estado de São Paulo.

            As metas deste programa são incrementar sistemas tecnológicos para produção de carne ovina, aumentar a oferta de animais com potencial genético para produtividade e executar estudos com alimentos x cruzamentos de animais com alto potencial zootécnico.

            No entanto, as recentes mudanças ocorridas na linha de crédito para ovinocultura do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista/Banco do Agronegócio Familiar (FEAP/BANAGRO) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA-SP) tiveram reflexos bastante positivos que devem refletir num aumento da produção paulista.

            Para se ter idéia do impacto dessas medidas, a readequação da linha de financiamento à realidade das características da produção paulista já nos oito primeiros meses levou ao aumento considerável da procura desse crédito. De agosto de 2007 a março de 2008 foram atendidos 136 produtores com recursos da ordem de R$7,25 milhões, valor que representa 46,62% do total de recursos destinados aos ovinocultores, desde 1998.

            A demanda dos ovinocultores foi resultado da mobilização organizada e conduzida pela Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos e teve como resultado alterações nessa política pública com o atendimento de praticamente toda a pauta de reivindicação, isso devido a boa articulação do setor, que resultou numa satisfação imediata dos produtores que rapidamente procuraram o financiamento. A falta de um melhor diálogo do setor público com o setor produtivo estava inviabilizando a tomada de crédito de boa parte de produtores.

            Como destaques dessa linha podemos apresentar a ampliação do atendimento para aquisição de reprodutores; a elevação do teto de financiamento de R$50.000,00 para R$100.000,00; a ampliação no prazo de pagamento de cinco para sete anos, incluindo a carência de dois anos e, finalmente, a inclusão das Regiões Litorâneas e do Vale do Ribeira, passando abranger todo o Estado de São Paulo.

            A atual linha de financiamento do FEAP/BANAGRO mostra um caminho correto na medida que incentiva os produtores a investir na criação de ovinos, possibilitando um crescimento da produção e provavelmente um melhoramento genético, já que isso também é contemplado neste crédito.

            O programa desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia complementa essa ação, já que contribui, juntamente com o FEAP, para a obtenção de um maior número de propriedades envolvidas na busca de melhora da produção com base em avanços tecnológicos, aumento da capitalização do produtor rural possibilitando o alcance da auto-suficiência de São Paulo na produção de carne ovina e na conquista de condições para exportar para outros estados brasileiros e/ou países.

            A conseqüência dessas políticas e ações deverá levar à melhora da qualidade da carne colocada no mercado, agregando valor a esta. O resultado deverá se concretizar com uma maior competitividade em toda a cadeia produtiva de ovinos paulista.

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1SILVA, R. O. P. Câmara setorial beneficia criação de ovinos em SP. Jornal Agrovalor, Fortaleza, v.2, n. 16, jun. 2007.

2INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS – IBGE. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/ bda/tabela/protabl.asp?z=p&o=2&i=P>. Acesso em: abr. 2008.

Palavras-chave: produção de ovinos, políticas públicas.

Data de Publicação: 15/05/2008

Autor(es): Nelson Pedro Staudt (nelson@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor