Análise Energética da Produção de Oleaginosas no Estado de São Paulo

            A partir da década de 1960, para subsidiar o Programa de Substituição de Importações, a Política Econômica Nacional investiu no aumento da produtividade agrícola, visando elevar a oferta de alimentos e, assim, reduzir os preços. Nos anos 1980, constatou-se que a Revolução Verde, enquanto Plano da política agrícola, cumpriu o seu objetivo, pois aumentou a oferta das commodities e, conseqüentemente, reduziu os preços domésticos e internacionais. No entanto, a desarticulação entre as políticas setoriais trouxe inúmeros impactos sócio-ambientais, decorrentes de um crescimento econômico baseado na produção em escala. Dentre eles, a Revolução Verde difundiu insumos provenientes de energia fóssil, conferindo aos sistemas agropecuários grande dependência e vulnerabilidade aos derivados do petróleo.

            Nos anos 1990, o processo de conscientização sobre os males ao meio ambiente, saúde e qualidade de vida decorrentes do uso em alta escala dos combustíveis fósseis, em pró do desenvolvimento econômico, começa a sair dos meios acadêmicos e expandir-se para as esferas sociais e políticas.

            Nos últimos tempos, as constantes elevações do preço do petróleo têm onerado os custos de produção agrícola, o que pode ter reflexos tanto na queda da rentabilidade dos agricultores como no aumento dos preços dos alimentos.

            Uma ação estratégica do Governo Federal é a expansão da biomassa, para fins energéticos, em que as oleaginosas destacam-se para a produção de biodiesel, em substituição ao diesel mineral (amplamente utilizado nas máquinas agrícolas).

            Os balanços energéticos são condicionantes importantes para avaliar a sustentabilidade do meio ambiente e da rentabilidade do produtor agrícola. É um instrumental que quantifica o fluxo de energia de sistemas produtivos, ou seja, a quantidade energética utilizada para a produção de um bem e a energia fornecida após o processo. Supostamente, esse método permite a racionalização do uso de energia, pois identifica em quais etapas do processo produtivo o consumo de energia é maior visando a adoção e/ou o aperfeiçoamento de tecnologias já existentes o que, indiretamente, indica como reduzir os custos de produção agrícola (diretamente ligado ao uso de combustíveis fósseis e à degradação do meio ambiente).

            Dentre os insumos envolvidos nos sistemas de produção direto milho, girassol e soja, nutrientes e óleo diesel são os principais responsáveis pelo custo energético (Tabela 1).

Tabela 1 - Custo Energético de Oleaginosas Cultivadas em Sistema de Plantio Direto, por Hectare, Estado de São Paulo, Safra 2005/06

 Item
Girassol
 
Milho
 
Soja
(kcal/ha)
(% total)
 
(kcal/ha)
(% total)
 
(kcal/ha)
(% total)
Óleo diesel
383.115,2
12,8
 
691.316,2
18,8
 
656.018,4
33,9
Óleo lubrificante
4.801,0
0,2
 
6.372,4
0,2
 
6.105,6
0,3
Graxa
2.028,2
0,1
 
5.180,7
0,1
 
5.123,3
0,3
Subtotal
389.944,4
13,1
 
702.869,3
19,1
 
667.247,3
34,5
Semente
24.965,0
0,8
 
73.800,0
2,0
 
320.000,0
16,6
Nutrientes
2.376.555,0
79,6
 
2.293.110,0
62,4
 
587.081,3
30,4
Defensivos
152.728,3
5,1
 
552.724,5
15,0
 
303.685,2
15,7
Máquinas e equipamentos
40.565,3
1,4
 
48.679,6
1,3
 
48.679,6
2,5
Mão-de-obra
2.115,8
0,1
 
6.137,3
0,2
 
5.754,0
0,3
Subtotal
2.596.929,4
86,9
 
2.974.451,4
80,9
 
1.265.200,1
65,5
Total
2.986.873,8
100,0
 
3.677.320,7
100,0
 
1.932.447,4
100,0
Fonte: Dados da pesquisa.

            Os nutrientes têm alto poder calorífico devido à presença de nitrogênio. O custo energético decorrente do uso dos nutrientes no sistema de plantio direto do girassol e do milho foram maiores do que o da soja. Esta, por ser uma leguminosa, fixa e aproveita o nitrogênio no solo. Milho e girassol, além de necessitarem da uréia no sistema de produção, exigem também percentuais mais elevados de adubos formulados.

            Especificamente no caso do girassol do Estado de São Paulo, sugere-se a substituição de fertilizantes químicos por adubos orgânicos e de origem animal, dado que grande parte desse cultivo destina-se à alimentação animal. Outra forma de reduzir a dependência de nutrientes de origem fóssil é a prática de rotação e/ou consórcio de leguminosas.

            Embora em termos percentuais pareça que a soja tenha um maior custo energético com o item óleo diesel, em volume absoluto na cultura do milho, o dispêndio deste combustível fóssil está pouco acima do da soja, o que é justificado pela proximidade do número de horas-máquina (4,55 e 4,78h/ha respectivamente), no caso do girassol o menor uso de horas-máquina (2,62h/ha) justifica o menor custo energético deste item entre as três culturas.

            A quantidade de sementes utilizada na cultura da soja, bem como o maior poder calorífico embutido nesse insumo, é superior aos do milho e girassol, o que justifica o percentual apresentado.

            No que concerne aos defensivos, o menor dispêndio energético é atribuído à cultura do girassol, que utiliza apenas dois produtos. Em termos percentuais, os defensivos parecem obter mais expressão na cultura da soja, onde nove produtos são utilizados. No entanto, o poder calorífico dos agrotóxicos utilizados no milho são bem maiores, fazendo com que a cultura consuma, em termos absolutos, maior energia.

            Tomando-se por base as produtividades das culturas de soja, milho e girassol calculou-se a eficiência energética dos sistemas de produção analisados (Tabela 2).

Tabela 2 - Balanço Energético das Culturas de Soja, Milho e Girassol, por hectare, Sistema de Plantio Direto, Estado de São Paulo, Safra 2005/06
(em kcal/ha)

Indicador
Girassol1
Milho
Soja
Dispêndio (A)
2.986.873,7
3.677.320,6
1.932.447,4
Receita (B)
11.733.550,0
22.140.000,0
12.000.000,0
Saldo (B-A)
8.746.676,3
18.462.679,4
10.067.552,6
Eficiência energética (B-A)/A
2,9
5,0
5,2
1 Baseia-se em estudo de caso formulado pelos autores.
Fonte: Elaborada pelos autores com base na matriz de coeficientes técnicos do Instituto de Economia Agrícola.

            De um modo geral, no Estado de São Paulo a cultura da soja apresenta maior eficiência energética que as demais culturas analisadas. Mesmo sendo o balanço energético capaz de medir com clareza as entradas e saídas de energia, ele não pode ser utilizado como indicativo na seleção de oleaginosas para produção de biodiesel, pois o seu resultado final é bastante dependente da produtividade, a qual se altera a cada região e condições edafoclimáticas, além de muitas delas, onde se insere as analisadas, serem altamente tecnificadas restringindo a absorção de mão-de-obra. Existe também o fato de diferentes níveis de tecnologias utilizadas nos sistemas de produção produzirem diferentes valores nos balanços energéticos.

            O coeficiente de mão-de-obra merece ser aprimorado, pois aqui considerou-se igual o esforço e gasto calorífico do tratorista e o do trabalhador que executa diretamente as atividades agrícolas, o que constitui uma simplificação. Portanto, em função da precariedade desse coeficiente, os balanços energéticos da agricultura não são indicadores adequados para utilização na formulação de políticas públicas voltadas para a inclusão social e/ou geração de empregos.

Palavras-chave: balanço energético, oleaginosas, biodiesel.

Data de Publicação: 10/06/2008

Autor(es): Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor