Tendência da Ocupação de Mão de Obra na Agricultura Paulista nos Cultivos da Cana-de-açúcar, Eucalipto e Seringueira, 2010-2030¹

 


 

            Este artigo tem por objetivo disponibilizar informações e analisar as tendências relativas à demanda de mão de obra em quatro produtos que estão concentrados em três cadeias agroindustriais: cana-de-açúcar/sucroalcooleiro, carnes e laticínios/pecuária, e madeira e resinas/silvicultura. Com grande relevância em termos de valor da produção (VP)2, esses produtos contribuem com dois terços no VP estadual, ocupando cerca de 80% das terras utilizadas pelas Unidades de Produção Agropecuárias (UPAs).
 

            Para compreender os resultados, faz-se necessário explicar as etapas anteriores, cujo ponto de partida é o estudo de Olivette, Nachiluk e Francisco3 que analisaram, para o período 1996 a 2008, aspectos da expansão da cultura canavieira e sua interação com outras culturas e alcançaram resultados que apontaram a concentração de novas áreas de cana-de-açúcar em municípios importantes na produção pecuária. A área territorial paulista com o cultivo de cana-de-açúcar apresentou grande avanço no período. Esta se deu, principalmente, sobre as pastagens e a retração de áreas de algumas culturas foram compensadas pelo processo de adensamento e maiores produtividades (grãos e cítrus). Detectou-se igualmente a expansão das culturas florestais – eucalipto e seringueira.
 

            Dado os resultados obtidos nesse artigo, elaborou-se um novo4 com o objetivo de compreender o comportamento conjuntural da substituição das áreas de pastagens por lavouras de cana-de-açúcar, de eucalipto e de seringueira, tendo como suporte programas ou projetos de política de expansão das culturas em questão. Tomou-se como base para a análise a avaliação da qualidade das pastagens paulistas em termos de índices de capacidade de lotação, comparando o potencial de cada um dos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs).
 

            Em relação a pecuária, constatou-se que 30% das pastagens paulistas são de baixa qualidade e possuem capacidade de acomodação sofrível. Considerando que, caso essa área de pastagem evoluísse para uma capacidade média de lotação, haveria uma liberação de 2,8 milhões de hectares para cultivo, o que propiciaria uma elevação da oferta de empregos, haja vista ser a pecuária de corte a exploração agropecuária em que a quantidade de força de trabalho demandada é de apenas 1 Equivalente Homem Ano
(EHA)/200 ha, enquanto para a cana-de-açúcar nas condições atuais de mecanização são necessários 8 EHA/100 ha; para o eucalipto, a geração é de um emprego a cada 4 ha na fase de implantação das florestas e um emprego permanente a cada 20 ha nas fases de manutenção e exploração; na heveicultura, a média de ocupação no ciclo da cultura é de 1 pessoa para cada 3 ha.
 

            Na sequência, serão discutidas as projeções para 2030, em termos de área e determinando as tendências da demanda de mão de obra (MDO) para essas quatro atividades, tiveram como base a quantidade de força de trabalho mencionada acima.
 

            Moraes5 analisou os impactos sobre o emprego no setor sucroalcooleiro em relação à mecanização da colheita que altera o perfil do empregado, demandando mais mão de obra para tratoristas, motoristas, mecânicos, condutores de colheitadeiras, técnicos em eletrônica, dentre outros, e que reduz, em maior proporção, a demanda dos empregados de baixa escolaridade (grande parte dos trabalhadores da lavoura canavieira têm poucos anos de estudo), expulsando-os da atividade. Este fato implica a necessidade de alfabetização, qualificação e treinamento desta mão de obra, para estar apta a atividades que exijam maior escolaridade.
 

            Tanto inovações tecnológicas quanto mudanças no ambiente institucional têm impactos importantes sobre o emprego. Ricci6

destaca que na área agrícola podem ser citados três níveis de inovação tecnológica com impactos sobre o mercado de trabalho: (i) inovações mecânicas – afetam a intensidade e ritmo da jornada de trabalho; (ii) inovações físico-químicas – modificam as condições naturais do solo e elevam a produtividade do trabalho; (iii) inovações biológicas – interferem na velocidade de rotação do capital e do trabalho.


            Nesse sentido deve-se ressaltar, novamente, que as tendências aqui colocadas são relativas às condições atuais não levando em consideração os impactos das futuras inovações tecnológicas.
 

            Na primeira projeção, área de cana-de-açúcar, estimou-se que a produtividade média será mantida nos patamares registrados no ano de 2009, ou seja, 85,67 t/ha, observando-se que, no início da série, a área plantada estava em torno de 4,9 milhões de hectares, o que corresponde a MDO em torno de 395,0 mil EHA; e para 2030, a área plantada no Estado de São Paulo chegaria a 7,9 milhões de hectares, que corresponderia à utilização de 633,0 mil empregos, ou seja, teria um aumento 238,0 mil EHA. Já para a segunda projeção, as produtividades anuais foram estimadas a partir da taxa de crescimento de 1,2% a.a., calculada com base nas produtividades médias registradas no período de 2000 a 2009. Os resultados apontam que em 2030 chegaria a 6,1 milhões de hectares, que representariam a utilização de cerca de 493,0 mil EHA, correspondendo a um incremento de 98,0 mil empregos (Figura 1).
 
 

Figura 1 - Tendência da Ocupação da Mão de Obra para Cana-de-Açúcar - Produtividade Constante (MDO1) e Produtividade com Taxa de 1,2% a.a. (MDO2) , 2010 a 2030.  

Fonte: Elaborada pelos autores.



            As projeções para a cana energia7 revelaram que, mantendo a produtividade constante em 100 t/ha para atingir uma produção de 678,3 milhões de toneladas em 2030, seriam necessários 6,8 milhões de hectares, o que implicaria em uma evolução de 395,0 EHA ocupadas no inicio da serie para 542,6 mil no final do período.
 

            Na segunda projeção, a produtividade média foi estimada a partir da taxa de crescimento de 1,2% a.a. e indica que em 2030, para atingir a mesma produção, as lavouras de cana-de-açúcar ocupariam 5,3 milhões de hectares o corresponde 422,4 mil empregos (Figura 2).
 

            Para a cultura do eucalipto, a mão de obra utilizada foi calculada tendo como parâmetros os seguintes aspectos: no primeiro ano de implantação da atividade a utilização é de 1 EHA, para cada 4 hectares e nos anos seguintes a necessidade é, em média, de 1 EHA para cada 20 hectares. As projeções feitas consideraram que a evolução da área ocorrerá de maneira contínua, com o plantio e exploração anuais de 16% de área, ou seja, 1/6 da área total estaria em implantação, sendo considerada área nova. Assim, definiu-se a soma 1/20 EHA para as áreas consolidadas e 1/4 EHA nas áreas em implantação8.
 
 

Figura 2 - Tendência da Ocupação da Mão de Obra para Cana Energia - Produtividade Constante (MDO1) e Produtividade com Taxa de 1,2% a.a. (MDO2), 2010 a 2030. 
   

Fonte: Elaborada pelos autores.



            Em 2010 estimou-se que o setor de florestas manteve 43,0 mil empregos diretos em uma área de 860,0 mil ha. Considerando um crescimento da demanda por produtos do eucalipto à taxa vegetativa de 3% a.a., essa área em 2030 estaria em cerca de 1.400 mil há, absorvendo 76,7 mil EHA. Uma segunda projeção mais otimista, com acréscimos de 5% a.a, faria a área explorada saltar para 2.700 milhões de ha, o que demandaria 158,0 mil empregos (Figura 3).
 
 

Figura 3 - Tendência da Ocupação da Mão de Obra para Eucalipto - Crescimento da área 3% a.a. (MDO 1) e a 5% a.a. (MDO 2), 2010 a 2030. 
 

Fonte: Elaborada pelos autores.



            Francisco9 analisou várias particularidades da heveicultura paulista em relação aos aspectos sociais destacando a capacidade de gerar empregos permanentes, com destaque para a agricultura familiar, bem como o caráter intensivo no emprego de mão de obra, por não ser essa exploração mecanizada. Constataram, também, que essa atividade tem como característica a existência de dois sistemas de ocupação no Estado de São Paulo: a parceria, a mais utilizada, e o emprego com registro em carteira.
 

            Para essa atividade foram realizadas três projeções. A primeira sem alteração na produtividade de 97,1 mil ha em 2010 para 430,8 mil em 2030; a segunda com alteração na produtividade de 96,9 mil ha para 410,6 mil há; e a última prospecção considerou que a produtividade irá evoluir nos mesmos patamares no período de 1996 a 2008 (2,23% a.a).
 

            Estimou-se que em 2010 essa atividade demandou cerca de 21,8 mil trabalhadores em termos de MDO, e as tendências verificadas foram 143,6 mil (MDO1), 136,9 mil (MDO 2) e 61, 3 mil (MDO 3) empregos em 2030 (Figura 4).
 
 

Figura 4 - Tendência da Ocupação da Mão de Obra para Seringueira - sem Alteração na Produtividade (MDO 1), com Alteração na Produtividade (MDO 2), e Produtividade Irá Evoluir nos 2,23% a.a. (MDO 3), 2010 a 2030.
 

Fonte: Elaborada pelos autores.
 
 

            Pode-se observar que, dentre as explorações aqui analisadas, somente a seringueira manteria a tendência de demanda exclusiva por MDO, enquanto para as demais as inovações tecnológicas afetariam em diferentes escalas a utilização de trabalhadores, especialmente no caso da cana que já está sofrendo este processo. Para o setor florestal vêm sendo adotas cada vez mais intensamente a mecanização tanto no plantio como na colheita. Entretanto, deve-se considerar que, mesmo diante do quadro da substituição das áreas de pastagens por essas atividades, a oferta EHA se elevaria dado à quantidade de força de trabalho demandada.
 

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1Trabalho apresentado no 38o Encontro Nacional de Estudos Rurais e Urbanos (CERU) em 17 de maio de 2011.

2A participação dessas atividades no valor da produção estadual: a cana-de-açúcar (41,9%), pecuária 13,9% (carne 10,8% e leite 3,09%), silvicultura 9,2% (eucalipto 7,3%, pínus 1,5% e seringueira 0,41%), correspondendo a 65 % do valor da produção do Estado de São Paulo.

3OLIVETTE, M. P. A.; NACHILUK, K.; FRANCISCO, V. L. F. S. Análise comparativa da área plantada com cana?de?açúcar frente aos principais grupos de culturas nos municípios paulistas, 1996?2008. Informações Econômicas, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 42?59, fev. 2010.

4OLIVETTE, M. P. A. et al. Evolução e prospecção da agricultura paulista: liberação da área de pastagem para o cultivo da cana-de-açúcar, eucalipto, seringueira e reflexos na pecuária, 1996-2030. Informações Econômicas, São Paulo, v. 41, n.3, p. 37?67, mar. 2011.

5MORAES, M. A. F. D. O mercado de trabalho da agroindústria canavieira:desafios e oportunidades. Economia Aplicada, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 605-619, out.-dez. 2007.

6RICCI, ALVES E NOVAES, 1994 apud MORAES, M. A. F. D. O mercado de trabalho da agroindústria canavieira:desafios e oportunidades. Economia Aplicada, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 605-619, out.-dez. 2007.

7As variedades desse tipo de cana seriam mais eficientes, do ponto de vista energético, que as utilizadas atualmente, pela conjugação de teor de sacarose e fibra resultado no aumento da produtividade de etanol e de energia elétrica.

8Segundo as estatísticas da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), o emprego de MDO estava em 2001 em torno de 1 homem a cada 23 ha, enquanto para Associação Brasileira de Produtores de Florestas (ABRAF) em 2009 este número estava em 1 homem para cada 17 ha.

9FRANCISCO, V. L. F. S et al. Análise Comparativa da Heveicultura no Estado de São Paulo, 1995/96 e 2007/08. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n.9, p. 21?33, set. 2009.
 

Palavras chave: mão de obra, cana, eucalipto, seringueira, São Paulo.

 

 

Data de Publicação: 04/07/2011

Autor(es): Mario Pires De Almeida Olivette (olivette@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Raquel Castelluci Caruso Sachs (raquelsachs@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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