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Café: Mercado Mantém Tendência De Alta
                     Mercado               Os 
mercados de futuro para o café, como Nova Iorque, Londres e BM&F, indicam a 
manutenção de mudança na tendência das cotações, que retornaram aos níveis 
observados em janeiro de 2001 (gráfico 1). Um dos fatores de sustentação dessa 
nova tendência de evolução das cotações nos diferentes mercados do produto tem 
sido a previsão de menor oferta para o ano-safra 2003/04. Criam-se, assim, 
condições de absorção de parte dos estoques dos países produtores e 
consumidores, evoluindo-se para um novo ciclo de preços crescentes para o setor. 
 
            
As cotações dos cafés arábicas para março de 2003 indicam altas de 24,77% e de 
36,43%, nos últimos 12 meses, respectivamente na BM&F e no mercado de Nova 
Iorque (contrato C) e do robusta, para janeiro de 2002, de 117,91% no mercado de 
Londres. Nota-se que a redução da oferta de café ocorrerá tanto no arábica, 
inclusive nos produtos de qualidade, como, principalmente, no robusta do Vietnã 
e dos países da África. Nesse último caso, a redução da oferta manifesta-se há 
pelo menos sete meses, refletindo-se na forte alta do produto.  
Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes 
mercados de futuros, 
Janeiro 
de 2001 a Novembro de 2002 
Nov.*= até 15/11/2002. 
Fonte: Gazeta Mercantil  
No mercado interno, os preços recebidos pelos produtores acompanharam as altas nos mercados internacionais. Ademais, foram fortemente estimulados pela aguda desvalorização do real, de tal forma que as cotações observadas para o café arábica, no âmbito dos produtores de São Paulo, voltaram aos níveis de maio/junho de 2000 (em termos nominais) (gráfico 2). Assim, verifica-se que os preços recebidos pelos produtores cresceram 77,63% no período de novembro de 2001 e outubro de 2002. Destaca-se que, de agora em diante, as cotações de café no Brasil (e no mercado internacional) dependerão fortemente do desenvolvimento da safra brasileira 2002/03 e do comportamento do clima até o completo desenvolvimento dos grãos e início da colheita. Nessas condições, os produtores, tanto na venda de seus estoques quanto na da safra futura, deverão atentar à expectativa dos preços futuros. Tal postura recomenda-se, sobretudo, após a crise enfrentada nos últimos dois anos.
Gráfico 2 - Preços recebidos pelos produtores de café no 
Estado de São Paulo no período de 2000-02 
Nov.2002 = preço médio até 14 
de novembro 
Fonte: Instituto de Economia Agrícola 
 
A instabilidade do câmbio brasileiro tem levado a um aumento do diferencial das cotações no mercado futuro da BM&F em relação ao de Nova Iorque. Essa diferença, que chegou a menos US$ 9,71 por saca em dezembro de 2001, cresceu ao longo dos meses para menos US$ 22,89/saca em novembro de 2002, refletindo-se nos preços para os produtores brasileiros. Esse é um indicador de que a forte pressão de venda por parte dos exportadores brasileiros vem ampliando os descontos para os importadores, resultando em menor cotação no mercado interno brasileiro e menor preço aos cafeicultores. Assim, essas cotações não estão captando toda alta observada no mercado internacional do café.
Lançado pela BM&F o contrato futuro de café conillon
            Ao 
longo da década de 90, os cafeicultores passaram a planejar melhor sua 
comercialização, valendo-se dos novos mecanismos financeiros que surgiram nesse 
período. As CPR’s tornaram-se as grandes vedetes dessa categoria de produtos. 
Somente entre 1998 e 2001, o número de sacas transacionadas sob essa modalidade 
de contrato saltou de 303.350 para 2.188.0411. A 
estabilização econômica permitiu a construção de horizontes econômicos, sendo 
esse fenômeno determinante para a alavancagem dos mecanismos financeiros de 
gestão da comercialização. Para além das CPR’s, existem outros produtos como os 
contratos de opção para arábica e robusta e de mercado futuro exclusivamente 
para café arábica. Recentemente, a BM&F lançou mais um produto financeiro 
específico para o segmento (o contrato de café robusta conillon), preenchendo a 
única lacuna existente. 
            
O contrato de café robusta conillon poderá, à semelhança do que já acontece com 
o contrato de café arábica, trilhar trajetória exitosa em termos de crescimento 
consistente do volume de negócios. Todavia, existem alguns aspectos do mercado 
de robusta que podem tornar algo lento esse desejável crescimento, tais como: a) 
a exportação de café robusta ser baixa em decorrência da grande demanda para a 
formação dos blends voltados para o mercado interno; e b) a Bolsa de Londres 
possuir grande inércia nesse mercado. 
            
A utilização do contrato futuro de café robusta conillon dependerá (a) do 
interesse despertado nos torrefadores ao buscarem garantia de preço para a 
aquisição da matéria-prima na composição de seus blends e (b) do interesse da 
indústria de solúvel no acesso a sua principal matéria-prima. Também os 
cafeicultores poderão formalizar contratos com o objetivo de planejar sua 
comercialização, notadamente fazer caixa para a época da colheita. 
            
No lançamento, foram mencionadas outras vantagens do novo contrato tais como2: a) ampliação do volume de CPR’s em função do 
balizamento de preços propiciado pelo novo produto; b) registro por parte dos 
exportadores de suas vendas com base de diferencial contra o contrato BM&F; 
c) fixação de parâmetros para os fabricantes de insumos se protegerem; d) 
permissão por parte do contrato de operações de arbitragem SP conillon x SP 
arábica e SP conillon x Londres conillon. 
            
Dada a importância do conillon na produção brasileira de café, atingindo um 
quarto do total produzido no País e ainda para a formação dos blends da 
indústria de torrefação e para a indústria de solúvel, havia por parte dos 
agentes do mercado um enorme anseio quanto à criação de contrato de mercado 
futuro de conillon que pudesse atender o setor no tocante à proteção de preço e 
à viabilização de operações a termo e de arbitragem, além de diversas outras 
modalidades operacionais em que o balizamento futuro é imprescindível. 
            
O novo contrato de conillon da BM&F tem cotação em dólares por saca, com uma 
variação mínima de apregoação de cinco centavos de dólar por saca. Cada contrato 
será de 250 sacas. A margem de garantia normal é de US$ 875,00 para o comum e de 
US$ 700,00 para o hedger. Nas posições opostas, a margem é de US$ 437,00 (comum) 
e US$ 350,00 (hedger). Os meses de vencimento dos contratos de conillon são 
janeiro, março, julho, setembro e novembro, com limite de oscilação de 8% para 
todos os vencimentos, exceto o mês presente.  
Campanha de divulgação do Selo Qualidade São Paulo para o Café Torrado e Moído
            O 
Estado de São Paulo criou o selo de qualidade para o café torrado e moído e 
torrado em grão, no âmbito da Câmara Setorial do Café de São Paulo, com o apoio 
da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (CODEAGRO) e do Instituto 
de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Esse selo representa um substancial avanço 
frente ao selo de pureza da ABIC, pois essa nova estampa dará ênfase à qualidade 
da bebida em seu aspecto eminentemente sensorial. Ou seja, considerando uma 
escala de 0 a 10, os produtos receberão selos de qualidade gourmet quando a 
bebida se posicionar entre 8 e 10; qualidade superior quando se posicionar entre 
6 e 8; e café tradicional quando a pontuação alcançar entre 3 e 6. 
            
O lançamento da campanha contou com a realização de oito eventos distribuídos 
pelas principais regiões cafeicultoras ou de concentração de torrefadoras, 
obtendo grande repercussão entre os agentes do segmento e na mídia local. Até o 
fechamento desse artigo, somava 20 o número das torrefadoras que aderiram ao 
Selo de Qualidade São Paulo. 
            
Após longos debates e consultas, estabeleceram-se os protocolos necessários para 
essa certificação, contratando-se a Fundação Vanzolim para ser a responsável 
pela emissão dos certificados. O ITAL passa a responder pelo monitoramento e 
avaliação dos produtos já rotulados e para os novos que vierem a solicitar o 
credenciamento junto ao programa. 
            
A estratégia da Câmara Setorial e das demais instituições envolvidas pauta-se 
pela constatação de que, somente através da melhoria do padrão de qualidade e da 
agregação de valor ao produto, se irá reverter a atual tendência de estagnação 
no volume demandado pelo mercado. Tal mobilização já despertou a atenção de 
outras esferas de governo (federal, estadual, municipal e poder judiciário), que 
já analisam a possibilidade de incluir em suas licitações os produtos com o selo 
de qualidade SP, ou mesmo implantar em seus estados certificação similar. Essa 
repercussão mostra o papel inovador e empreendedor dos membros da câmara 
paulista em formatar e operacionalizar novas modalidades de atuação no mercado, 
contribuindo para a modernizando do agronegócio café.  
Novos financiamentos para o setor
            O 
Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a abertura de uma linha de crédito 
para o segmento, no valor de R$ 300,00 milhões, com recursos do FUNCAFÉ, para a 
aplicação no custeio da safra 2002/03. Este custeio terá juros de 9,50% ao ano, 
sendo o limite da linha de crédito de R$ 1.000,00 por hectare e o prazo para 
contratação até 28 de dezembro deste ano. 
            
O CMN aprovou também a prorrogação do prazo de tomada de novos empréstimos de 
estocagem e ampliou o prazo para a conversão das operações de custeio e colheita 
em estocagem. O novo prazo-limite estabelecido passa a ser 30 de novembro. Ao 
mesmo tempo, o CMN oficializou as normas da PGPM (Política de Garantia de Preços 
Mínimos), no que diz respeito aos empréstimos de custeio. Com essa medida, tais 
linhas de crédito começarão a ser quitadas dois meses após a colheita, com 
acréscimo de mais quatro meses. Anteriormente, este prazo era de 45 dias. 
            
Além disso, o café foi incluído no Desconto de Duplicata Rural e nas Notas 
Promissórias Rurais. Com essa medida, os produtores poderão tentar obter 
financiamentos em linhas de crédito anteriormente destinadas apenas para arroz, 
algodão, fruticultura, trigo e suinocultura, que somam R$ 1,25 bilhão. 
   
| 1 Dados coletados em BRAGA, Guilherme. 
      Exportadores de café ampliam atuação e financiam produção. Jornal Valor 
      Econômico, 8-9-10/11/2002, p.A10.        2 Segundo informações coletadas em palestra de Renato Junqueira durante evento de lançamento do contrato na BM&F.  | 
Data de Publicação: 19/11/2002
                Autor(es): 
                Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              
                    
                        