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Bom Momento para o Trabalhador
Em 2011, embora a atividade econômica tenha apresentado
ritmo moderado, o mercado de trabalho manteve-se robusto, com destaque para o
declínio na taxa média anual de desemprego, que foi de 6%. Mesmo sabendo que as
alterações na atividade no mercado de trabalho ocorrem com certo intervalo de
tempo em relação às mudanças na produção, isto por enquanto não tem sido
sinalizado pelo IBGE, que apresentou taxa de desemprego para fevereiro de 2012
de 5,7%, baixa recorde para o mês. Momento impar para o Brasil, quando
comparado com outros países. O aumento das transferências do programa Bolsa
Família1, que visa melhorar a renda e bem-estar dos mais pobres,
sinaliza o crescimento com inclusão social e produtiva. Embora tenha sofrido muitas críticas, o programa tem contribuído, de
forma significativa, para a redução da desigualdade de renda. Com o salário
mínimo sendo reajustado anualmente e com a melhoria da distribuição de renda, as
classes D e E passam a decrescer e estas pessoas vão integrar a crescente
classe média com diferentes gostos, necessidades e preferências. Em 2011, a classe média brasileira ficou em 105,5 milhões
de pessoas, aproximadamente 55% da população. O aumento da formalização do
mercado de trabalho é outro aspecto que indica a melhora da qualidade do
emprego no Brasil. Segundo o IBGE, a proporção de pessoas ocupadas com carteira
assinada em relação ao contingente de ocupados saltou para 53,3% em 2012. No
mesmo sentido, a proporção de contribuintes para a previdência social em
relação à população ocupada atingiu 71,4% na mesma base de comparação. Um dos
mais importantes fatores para a redução da desigualdade de renda é o aumento do
número de indivíduos com qualificação profissional. Informes da FGV apresentam
aumento na participação percentual no número de pessoas qualificadas: entre
2009 e 2011, de 21,6% para 24,9% da população em idade ativa. Os dados sobre
escolaridade disponível pelo IBGE corroboram com os informes da FGV, pois em
2003 a população ocupada com 11 ou mais anos de estudo respondia por 46,7% do
total, em 2011 esse percentual subiu para 60,7%. Tal informação leva a ilação
de que o aumento dos níveis de escolaridade da população empregada abre espaço
para o aumento da produtividade, redução de custos de produção, aumento dos
salários e lucratividade das empresas. Não se pode negar que estes informes
contribuem para gerar um ciclo virtuoso de crescimento2. Atualmente, os setores primário e terciário da economia
brasileira são responsáveis pelas maiores taxas de crescimento, apesar da crise
internacional. Estudo descreve este momento como ciclo virtuoso do campo,
propiciado pela maior capitalização dos produtores, que tem gerado maior
investimento em tecnologia (sementes, fertilizantes e defensivos), maquinários
mais modernos e precisos (colheitadeiras e pulverizadores) e maior
profissionalização dos médios e grandes agricultores, com a presença de grupos
econômicos nacionais e estrangeiros atuando na produção agrícola. O cenário
positivo para o agronegócio reflete-se também no crédito, que apresenta baixas
taxas de inadimplência nos últimos anos, elevado percentual de
autofinanciamento e um crescente interesse do sistema financeiro em financiar
produtores de porte médio e grande que, com maior produtividade, associada à
melhor gestão de suas unidades produtivas, acesso ao crédito e os melhores
índices de preços das commodities
agrícolas, apresentam uma valorização significativa face aos outros setores da
economia3. A mão de obra nunca esteve tão valorizada no Brasil. Para
alguns, este cenário está sendo chamado de apagão de mão de obra; para outros,
é a oportunidade de mudar a forma com que as empresas arregimentam sua força de
trabalho. Empresas preocupadas em criar bons ambientes de trabalho precisam
seduzir, interessar, motivar, flexibilizar para entender as necessidades de
cada um. É importante, contudo, saber que esse cenário não vai durar para
sempre. Nos próximos cinco a dez anos, o
mercado vai se ajustar. Cursos de todos os tipos e tamanhos vão surgir
para preparar aqueles que hoje são despreparados. Haverá mais oferta de mão de
obra e o apagão vai se acender novamente, ou seja, o indivíduo tem que se
preparar para o novo ciclo4. No setor da construção civil, por exemplo, falta mão de
obra treinada. No setor de serviços a procura continua firme, sustentada pela
renda crescente, o que também acaba por melhorar os rendimentos. A renda real
do trabalhador cresceu em 2012, pois o aumento do mínimo tem papel importante
nesse cenário, quanto a menor taxa de inflação acumulada5. Isto foi
o resultado da política de valorização implementada pelo governo: o valor do
salário mínimo apresentou aumento ainda mais significativo, crescendo em termos
reais de 57,5%, de 2004 a 2012. O reajuste de 14% em termos nominais do salário
mínimo, que era de R$545,00 para R$ 622,00, injetou mais de R$50 bilhões no
mercado interno6. Artigo de Menezes Filho (2012)7 comparou o
salário médio por setor de atividade entre 1995 e 2009 apenas dos empregados
que detinham o nível médio escolar, e constatou que o salário médio na
indústria de transformação declinou 8%, ao passo que na agricultura houve
aumento de 25%. Neste mesmo período a produtividade da indústria declinou 11%,
aumentando quase 70% na agricultura. Como os salários dependem da produtividade,
parte da redução do diferencial de salários entre indústria e agricultura
reflete a redução no diferencial da produtividade entre esses setores8. Os
salários rurais pagos à população trabalhadora na atualidade são informações
relevantes quando se avalia o mercado de trabalho, e interessam tanto ao
empregador quanto ao trabalhador. Estes dados constituem importante subsídio
para as negociações salariais entre sindicatos e empresas rurais, bem como para
avaliações efetuadas por instituições governamentais, ou não, sobre a situação
econômica dos trabalhadores. Diante destas considerações, apresenta-se nesse
artigo o panorama dos salários rurais em 2011 e 2012. As informações foram
obtidas por meio de levantamento subjetivo, realizado pelos técnicos das Casas
de Agricultura de todos os municípios do Estado de São Paulo, nos meses de
abril e novembro. O levantamento abrange seis categorias de trabalho:
administrador, tratorista, mensalista, capataz, diarista e volante. Os dados
foram corrigidos por valores reais pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Ampliado (IPCA), do IBGE. De modo geral, para todas as
categorias de trabalho pesquisadas, constatou-se evolução satisfatória dos
salários rurais, em valores reais, ao longo do período considerado. A comparação das informações dos levantamentos de
abril de 2012 e 2011, entre os trabalhadores com recebimento mensal, mostrou maior crescimento para capataz, ou
seja, 11,2%, e menor variação para mensalista, com 6,7%. Para diarista e
volante, o crescimento na diária foi semelhante, sendo de 9,9% e de 9,2%,
respectivamente (Tabela 1). Tabela 1 - Salários Rurais por Categoria de
Trabalho1, Estado de São Paulo, 2011 e 2012 Categoria (R$/mês) Var.% 2011 2012 abr. 2012/ nov. 2012/ abril novembro abril novembro Administrador 1.307,07 1.342,11 1.450,00 1.458,65 10,9 8,7 Capataz 916,30 939,01 1.019,17 1.009,89 11,2 7,5 Mensalista 732,16 743,01 781,53 782,99 6,7 5,4 Tratorista 957,07 985,39 1.048,56 1.069,57 9,6 8,5 Categoria (R$/dia) Var.% 2011 2012 abr. 2012/ nov. 2012/ abril novembro abril novembro Diarista 37,75 39,51 41,47 42,49 9,9 7,5 Volante 39,48 40,85 43,1 44,02 9,2 7,8 1Em reais de novembro
de 2012, pelo IPCA/IBGE. Fonte: INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA – IEA. Banco de Dados.
São Paulo: IEA, 2013. Disponível em: <www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: 04
jun. 2013. A comparação dos salários
pagos em novembro de 2011 e de 2012 também evidenciou variações percentuais positivas para todas as categorias analisadas,
sendo o maior de 8,7% para administrador e a menor, mais uma vez para
mensalista, de 5,4%. As diárias pagas ao volante aumentaram 7,8% e aos
diaristas 7,5%. Note-se que as categorias de trabalho com maior
qualificação obtiveram maior crescimento salarial, o que sugere uma readequação
do mercado de trabalho rural no qual a especialização e a qualificação do
trabalhador são relevantes para obtenção do salário. Avaliações recentes sobre
as novas tendências das ocupações têm ressaltado a importância da formação de
trabalhadores capacitados para as alterações nos processos produtivos da
agropecuária paulista. Conforme Becker, a variação na renda da agricultura é
resultado da pouca oferta de mão de obra qualificada disponíveis no setor.
Segundo ele, a remuneração aumenta à medida que esses serviços se tornam
especializados. “Hoje nós temos exemplo de trabalhadores que chegam a ganhar
R$3.500,00 para operar um trator”, explica. Segundo o gerente de aprendizagem,
o produtor rural busca cada vez mais trabalhadores qualificados para o campo,
uma vez que a relação de troca é eficiente. O produtor ter um trabalhador qualificado significa
redução de custos, uma vez que ele tem um profissional que sabe operacionalizar
muitas vezes equipamentos que custam milhões. Além de uma melhor produção e
menos desgastes9. Com indicadores positivos do mercado de trabalho, o
boletim divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) destaca
a queda da desocupação média em 2012 (5,5%, a menor desde 2002) e o crescimento
da taxa de atividade (pessoas economicamente ativas), de 57,1% para 57,3%,
entre 2011 e 2012. De acordo com o documento, o mercado de trabalho registrou
um "ótimo desempenho" no ano passado10. Como evidenciado, o setor rural paulista apresentou e
acompanhou bom desempenho em relação aos outros setores econômicos. Contudo,
para manter a eficiência dos diferentes setores econômicos, é necessário educar
e qualificar maior número de pessoas, melhorar a qualidade de infraestrutura
para que a circulação de produtos e pessoas sejam de fato eficientes nas diferentes
regiões, para que leis trabalhistas e tributárias não sejam voláteis a fim de
não gerar instabilidades jurídicas e institucionais, e promover a eficiência
nos diferentes setores econômicos resultando em maior competitividade. __________________________ 1Este
programa tem apresentado melhor eficiência para reduzir a pobreza, pois por um
lado tem por foco os indivíduos que possuem às rendas mais baixas e, por outro,
por condicionar o recebimento do benefício com matrículas dos filhos nas
escolas públicas, realização de check-ups
médicos regulares e a tomada de vacinas. 2BRASIL. Ministério da Fazenda. Emprego
e Renda. Economia Verde, p. 44-160,
2012. 3BARROS, J. R. M. O Brasil no início de
2012. O Estado de São Paulo, São
Paulo, 01 abr. 2012. Disponível em: <http://www.agrolink.com.br/noticias/ClippingDetalhe.aspx?CodNoticia=167837>.
Acesso em: 25 abr. 2012. 4NASAJON, C. Mão de obra com valor muda
o país. Revista Impresso, ano 2, n.
14, p. 68, mar. 2012. 5MARTINS, A. Salário em serviços sobe
10% acima da inflação. Valor Econômico, São
Paulo, 27-29 abr. 2012. (A – p. 3). 6Op. cit. nota 2. 7MENEZES FILHO, N. A indústria paga
melhores salários? Valor Econômico,
18-20 maio 2012. (A- p. 15). 8Na verdade, para o autor, o salário
depende muito mais da educação do que do setor em que a pessoa trabalha. Uma
pessoa com nível superior ganha duas vezes e meia mais do que uma pessoa com
ensino médio, e três vezes mais do que uma pessoa com ensino fundamental. Ainda
persiste em algumas cabeças a ideia de que algum setor de economia pode ser a
locomotiva da nação, mas no mundo moderno são as pessoas e ideias que fazem a
diferença. O trabalhador qualificado irá ganhar mais onde quer que ele escolha
e levará consigo sua maior produtividade. Assim, a prioridade é melhorar a qualidade
da educação. MENEZES FILHO, N. A indústria paga melhores salários? Valor Econômico, 18-20 maio 2012. (A-
p. 15). 9FOLHA DO ESTADO. Remuneração no campo cresce 6,3% no MT. Disponível em:
<http://www.agrolink.com.br/noticias/ClippingDetalhe.aspx?CodNoticia=172875>.
Acesso em: 25 set. 2012. 10INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA – IPEA. Constata que mercado de
trabalho beneficia agora os excluídos. São Paulo: IPEA, 2013. Disponível
em: <www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17079&Itemid=9>.
Acesso em: 05 mar. 2013. Palavras-chave: salários rurais,
trabalho rural, Estado de São Paulo.
abr. 2011
nov. 2011
abr. 2011
nov. 2011
Data de Publicação: 05/07/2013
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Carlota Meloni Vicente (carlota@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor