Carne Bovina ao Consumidor em São Paulo: preços em elevação


 

A carne bovina é um dos principais produtos que compõem a cesta de mercado das famílias paulistanas. Este item responde por 11,78% no valor da cesta de mercado de produtos alimentícios consumidos dentro do domicílio (Quadro 1). Dada sua importância, qualquer oscilação no seu preço impacta significativamente o orçamento familiar dos cidadãos. Essa afirmação fundamenta-se nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (POF/FIPE) obtidos no levantamento realizado em 2011-20132. A partir deste estudo, foram calculados os pesos dos agrupamentos de produtos alimentícios consumidos dentro do domicílio. Conforme os resultados do quadro 1, verifica-se que os cortes de carnes bovina compõem o grupo de maior peso no dispêndio familiar no município de São Paulo.

 

Quadro 1 – Participação Percentual dos Grupos de Alimentos na Cesta de Mercado, Município de São Paulo, 2011 a 2013

1 - Industrializados

Part. %

 

2- Semielaborados

Part. %

1.1 - Derivados do Leite

6,96

 

2.1 - Carnes bovinas

11,78

1.2 - Derivados da Carne

4,79

 

2.2 - Carnes suínas

1,83

1.3 - Panificados

8,88

 

2.3 - Aves

5,49

1.4 - Doces

3,11

 

2.4 - Pescados

1,99

1.5 - Cafés, achocolatado em pó e chás

3,47

 

2.5 - Leites

5,46

1.6 - Biscoitos e salgadinhos

3,03

 

2.6 - Cereais

5,72

1.7 - Massas, farinhas e féculas

2,71

 

3 - Produtos in natura

 

1.8 - Condimentos e sopas

2,40

 

3.1 - Frutas

9,38

1.9 - Óleos

2,52

 

3.2 - Legumes

4,43

1.10 - Açúcar e adoçante

2,05

 

3.3 - Tubérculos

3,43

1.11 - Enlatados e conservas

1,39

 

3.4 - Verduras

3,11

1.12 - Alimentos semiprontos e prontos

4,98

 

3.5 - Ovos

1,10

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Pesquisa de Orçamentos Familiares. São Paulo: FIPE, 2015. Disponível em: https://www.fipe.org.br/pt-br/indices/pof/. Acesso em: dez. 2019.

 

Segundo dados do IBGE de 2019, a região metropolitana do Estado de São Paulo consome aproximadamente 11% de toda a carne produzida no Brasil. A POF da mesma instituição aponta São Paulo como maior mercado consumidor de carne bovina no Brasil3.

O Instituto de Economia Agrícola (IEA) acompanha sistematicamente, dentre outras estatísticas, os preços médios de alimentos comercializados no mercado varejista do município de São Paulo, no mercado atacadista da região metropolitana da capital e os preços recebidos pelos produtores do estado. As informações coletadas nestes três níveis de comercialização permitem acompanhar e analisar as variações de preços, desde o produtor até o consumidor final.

Em relação à carne bovina, o IEA pesquisa os preços dos seguintes cortes no mercado varejista: acém, alcatra, contrafilé, costela, coxão duro, coxão mole, filé mignon, lagarto, músculo, patinho e picanha; no mercado atacadista: carne bovina resfriada dianteiro com osso, carne bovina resfriada traseiro com osso e carne bovina resfriada ponta de agulha; ao produtor: os preços de comercialização de bezerro, boi gordo, boi magro, garrote, novilha, vaca gorda e magra.

Neste trabalho serão utilizadas, para análise da variação de preços de carne bovina no varejo, as estatísticas do IEA de preço médio ponderado de todos os cortes bovinos (R$/kg) acompanhados pelo levantamento de preços do mercado varejista4, os preços médios dos cortes traseiro e dianteiro (R$/kg) provenientes do levantamento no mercado atacadista5, e o preço de boi gordo (R$/@), acompanhado pela estatística de preços médios diários ao produtor6 nos meses de novembro de 2018 e outubro e novembro de 2019 (Tabela 1).

 

Tabela 1 – Preço Médio da Carne Bovina Ponderada por Cortes no Varejo, Dianteiro e Traseiro no Atacado e Boi Gordo ao Produtor, Estado de São Paulo, Novembro/ 2018, Outubro/2019 e Novembro/2019

Período

Varejo (R$/kg)

Carne bovina

Atacado (R$/kg)

Produtor (R$/@)

Boi gordo

Traseiro

Dianteiro

Nov./2018

23,18

12,23

7,85

145,57

Out./2019

24,06

13,42

9,11

158,94

Nov./2019

26,81

16,78

11,18

186,61

Fonte: Instituto de Economia Agrícola. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2019. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/Bancodedados.php. Acesso em: dez. 2019.

 

Para melhor compreensão dos resultados, resume-se aqui a metodologia de cálculo da carne bovina no mercado varejista em quatro processos: a) calculam-se as médias simples de todos os cortes por equipamento varejista e faixa de renda dos dados coletados diariamente; b) os preços são ponderados pelo local de compra (açougue ou supermercado); c) cálculo de média ponderada de faixa de renda por estratos de distritos do município; e d) a etapa final é a ponderação por corte, obtendo-se assim a estatística de preço médio de carne bovina no varejo.

No mercado atacadista, os preços médios de dianteiro e traseiro com osso são obtidos do setor atacadista pelo levantamento diário de preços mínimos, médios e máximos de comercialização. Os preços ao produtor são coletados diariamente nas principais regiões produtoras do estado e posteriormente ponderados para obtenção do preço médio de boi gordo recebido pelos produtores paulistas.

Na tabela 2 são apresentadas as variações de preços entre novembro de 2019 e de 2018, e a variação mensal entre novembro a outubro do ano corrente.

A análise dos dados aponta que os preços atuais de carne bovina no varejo (novembro/2019) estão 15,64% superiores aos praticados há um ano, muito acima da inflação em igual período, mas deve-se atentar ao fato de que a maior percentagem dessa variação foi constatada no último mês (11,41%), equivalente a quase 75% do aumento acumulado verificado nos últimos 12 meses.

Considerando o histórico de variação no preço das carnes bovinas no varejo, verifica-se que este produto tende a ter seus preços aumentados devido à entressafra da produção de bovinos que ocorre no segundo semestre de cada ano. A redução da capacidade de sustentação das pastagens, devido ao frio, geadas e estiagem, típicos dessa época do ano, tende a diminuir o volume de abate, e esse cenário explica a variação sazonal de preços que ocorre neste período.

Contudo, é importante ressaltar que os animais oriundos de confinamento equilibram, de certa forma, a relação oferta-demanda na entressafra nos meses de maior redução de oferta, de agosto a outubro. Nos meses de novembro e dezembro, porém, a disponibilidade destes animais (confinados) já não é suficiente para equilibrar a oferta de boi gordo disponíveis para o abate, abrindo espaço para aumentos de preços.

Particularmente neste mês de novembro de 2019, a variação verificada foi bem superior aos demais anos. Além da questão sazonal já comentada, o efeito que a peste suína africana provocou na produção de suínos na China é considerado um fator determinante para os atuais preços observados no Brasil7.

A intensa procura pela carne brasileira como substituta da suína pelos chineses impulsiona a exportação brasileira que ainda é incentivada pelo valor atual do dólar; segundo os dados de mercado internacional do IEA8 em novembro de 2019, a cotação máxima da moeda americana para venda foi R$4,26, enquanto no mesmo mês em 2018, o maior valor foi de R$3,89, ou seja, o dólar está valorizado em 9,5%. Em relação ao valor exportado, houve aumento de 7,5% nas exportações brasileiras do grupo carnes entre janeiro e outubro deste ano, em comparação com igual período do ano anterior9.

 

Tabela 2 – Variação Percentual do Preço Médio da Carne Bovina, Média Ponderada dos Cortes no Varejo, Dianteiro e Traseiro no Atacado e Boi Gordo ao Produtor, Estado de São Paulo, Novembro/2019 a Novembro/2018 e Novembro/2019 a Outubro/2019

(%)

Período

Varejo

Carne bovina

Atacado

Produtor

Boi Gordo

Traseiro

Dianteiro

Nov./2019 a nov./2018

15,64

37,20

42,42

28,19

Nov./2019 a out./2019

11,41

25,04

22,72

17,41

Fonte: Instituto de Economia Agrícola. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2019. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/Bancodedados.php. Acesso em: dez. 2019.

 

A tabela 2 também traz a variação ao produtor. Em novembro de 2019, a cotação da arroba do boi em relação a outubro variou positivamente em 17,41%, e o preço médio mensal foi de R$186,61. Entretanto, este valor está bem abaixo das cotações registradas nos últimos dez dias do mês, momento de intensificação do aumento, com cotações superiores a R$200,00, alcançando o maior valor de comercialização no dia 22, quando foi registrado o valor médio de R$224,85 por arroba. Observa-se também na tabela 2 que os maiores reajustes de carne bovina em novembro ocorrem no mercado atacadista: 25,04% para a carne bovina resfriada traseiro com osso, parte do bovino onde se localizam os cortes mais nobres, e 22,72% para a carne bovina resfriada dianteiro com osso. Estes resultados podem indicar que a variação dos preços de carne bovina ao consumidor siga ascendente nos próximos meses.

Outra preocupação do consumidor paulistano refere-se aos aumentos observados na carne de frango (frango inteiro) em 7,70%, e na média dos cortes suínos, reajustados neste mês de novembro em 6,16% (Figura 1).

 

A maior demanda por estas duas carnes como alternativa ao aumento da carne bovina motivou a variação positiva dos preços das carnes de frango e de suíno no mês de novembro de 2019.

Vale ressaltar que, na média, o aumento de preços da carne bovina em São Paulo foi maior que na maioria dos demais estados, pois a demanda pelo produto é maior.


 

 1Os autores agradecem a contribuição da Técnica de Apoio à Pesquisa Magali Aparecida Schaffer.


2Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Pesquisa de Orçamentos Familiares. São Paulo: FIPE, 2015. Disponível em: https://www.fipe.org.br/pt-br/indices/pof/#pof---2011-2013. Acesso em: dez. 2019.

 

3CRESPOLINI, M. Consumo de carne bovina nas grandes cidades equivale à produção de quase todo o Centro-Oeste!. SCOT Consultoria, Bebedouro, 7 jun. 2019. Disponível em: https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/cartas/50718/carta-conjuntura---consumo-de-carne-bovina-nas-grandes-cidades-equivale-a-producao-de-quase-todo-o-centro-oeste!.htm. Acesso em: dez. 2019.

 

4INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: preços médios mensais no varejo. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=4. Acesso em: dez. 2019.

 

5INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: preços médios mensais de venda no mercado atacadista. Disponível em http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/Precos_Medios.aspx?cod_sis=3. Acesso em: dez. 2019.

 

6INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: preços médios diários recebidos aos produtores. Disponível em http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/PrecosDiariosRecebidos.aspx. Acesso em: dez. 2019.

 

7CARVALHO, A. L. de. Preço da carne dispara, entenda o que causou o aumento. Estadão: Economia & Negócios, São Paulo, 29 nov. 2019. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,preco-da-carne-dispara-entenda-o-que-causou-o-aumento,70003107541. Acesso em: dez. 2019.

 

8INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: mercado internacional - cotações. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/CotacoesMoedas.aspx. Acesso em: dez. 2019.

 

9ANGELO, J. A.; GHOBRIL, C. N.; OLIVEIRA, M. D. M. Balança comercial dos agronegócios paulista e brasileiro de janeiro a outubro de 2019. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 4, n. 11, p. 1-13, nov. 2019. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-87-2019.pdf. Acesso em: dez. 2019.

 

 

 

Palavras-chave: carne bovina, preços, São Paulo, mercado varejista.


Data de Publicação: 17/12/2019

Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor