Perspectiva: safra de trigo 2022


 

A produção mundial de trigo na temporada 2022/23 foi projetada nesse mês de maio, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 774,8 milhões de toneladas, 1,0% menor que o estimado para 2021/22. Menores produções na Ucrânia, Austrália e Marrocos deverão ser parcialmente compensadas por maiores produções do Canadá, Rússia e Estados Unidos. O relatório do USDA aponta uma redução de 35% para a produção ucraniana2

A produção brasileira de trigo em 2022, conforme previsão de maio, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) deverá se situar em 8,1 milhões de toneladas, 6,0% superior à obtida no ano anterior, em função de aumentos na área e na produtividade. Em relação a 2020, porém, é 27% superior, ano no qual o resultado revela mudança de patamar da produção nacional, que saltou de 5,1 milhões de toneladas para 6,2 milhões de toneladas3. Se isso for confirmado, o volume de 8,1 milhões será suficiente para satisfazer 64% do consumo nacional estimado. Essa mudança de patamar pode ser parcialmente atribuída a novos hábitos alimentares decorrentes das políticas de isolamento adotadas para debelar a covid-19. O crescimento da produção nacional já vinha ocorrendo desde 2018, refletindo elevação das cotações internacionais do trigo (Figura 1), crescimento esse acentuado em consequência da pandemia e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ambos historicamente grandes produtores e exportadores de trigo. Como pode-se ver, a cotação internacional do trigo atingiu o pico em março de 2022 e voltou a esse nível em maio corrente, já com mais de três meses da guerra (Figura 2).

 

 

Nessa conjuntura, de preços recordes, pandemia e posteriormente a guerra entre dois dos maiores exportadores de trigo, o mercado internacional do produto está desorganizado e busca rearticular-se sob novas bases. O Brasil, que historicamente vem disputando as primeiras colocações como importador com o Egito e eventualmente com a China, posiciona-se também como exportador de trigo. De 2017 até 2020, exportou volumes anuais da ordem de 600 mil toneladas, saltando para 1,1 milhão de toneladas em 2021, e 2,2 milhões de toneladas em 2022 até o mês de março. O estado do Rio Grande do Sul, maior produtor brasileiro de trigo em 2021 com 45% da produção nacional, tem sido o responsável pelo maior volume de exportações do país (Tabela 1).

 

 

 

O Brasil está exportando trigo para mais de 15 países, com destaque para Arábia Saudita, Indonésia, Marrocos, África do Sul, Vietnã, Sudão, Turquia e Paquistão (Tabela 2).

As importações brasileiras de trigo são predominantemente da Argentina (com representatividade média de 83% no período de 2017 a 2021), mas nesses últimos anos alguns volumes de importação de outras origens foram liberados da tarifa externa comum (TEC), diante das dificuldades impostas pela desarticulação da comercialização no mercado internacional, notadamente em função das elevações das cotações internacionais, movimento acirrado pela guerra. O Ministério da Economia decretou TEC zero para as importações brasileiras de trigo até 31 de dezembro de 2022.

 

 

A produção paulista de trigo em 2021, de acordo com a CONAB, foi de 254,6 mil toneladas, 3,3% da produção nacional. Contudo, o estado de São Paulo responde por 13,0% da moagem brasileira e é o maior consumidor do país. Ainda segundo dados da CONAB, a produção paulista em 2022 está estimada em 265,0 mil toneladas, 4,1% superior à obtida em 2021.

O Instituto de Economia Agrícola, em seu levantamento de intenção de plantio realizado em fevereiro (praticamente antes do início da guerra Rússia e Ucrânia), indica para 2022 uma área a ser cultivada com trigo de 89,4 mil hectares, 9% inferior à da temporada anterior. Portanto, considerando-se a mesma produtividade do ano anterior, resultaria em uma queda de 9,1% na produção (Tabela 3). O levantamento foi feito no mês anterior à época de início da semeadura em São Paulo, e na ocasião os preços estavam elevados, mas os custos também e a relação não favorecia a elevação de área. Posteriormente, com o início da guerra, os preços aumentaram ainda mais e alteraram a relação. Assim, a queda pode não ocorrer e até a área pode aumentar. Também a produtividade poderá ser maior, uma vez que em 2021 a mesma foi prejudicada por estiagem e geadas. Em reunião da câmara setorial do trigo de São Paulo, em 7 de abril, as quatro maiores cooperativas tritícolas do estado apresentaram suas perspectivas que embasaram esse resultado4. Há ainda procura por semente e, então, é provável que essa estimativa seja revista para cima, podendo até atingir o mesmo volume produzido em 20215.

 

 

1Os autores agradecem a colaboração de Paulo Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa do Instituto de Economia Agrícola.

 

2USDA - United States Department of  Agriculture World Agricultural Supply and Demand Estimates. Disponível em: https://www.usda.gov/oce/commodity/wasde/wasde0522.pdf. Acesso em 23 maio 2022.


3CONAB- Companhia Nacional de Abastecimento Trigo-Safras 2020/21 e 2021/22 Comparativo de Área, Produtividade e Produção. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos.  Acesso em 23 maio 2022.


4SINDUSTRIGO Reunião da Câmara Setorial de Trigo de São Paulo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3RikAZWA7Pw&t=3945s. Acesso em 27 de maio 2022.

 

5Op. cit. nota 4.

  

Palavras-chave: trigo safra 2022, previsão de safra, mercado de trigo. 

 

  

 

  

COMO CITAR ESTE ARTIGO

SILVA, J. R. da; ANGELO, J. A. Perspectiva: safra de trigo 2022. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 6, jun. 2021, p. 1-7. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 14/06/2022

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor