As exportações da avicultura de corte paulista no cenário brasileiro

            A expansão da influenza aviária para Europa e a África em 2006 - e a conseqüente retração do consumo mundial da carne de frango com a queda nas importações mundiais - levou a um declínio das vendas externas brasileiras, que resultou em números inferiores às expectativas iniciais. O volume exportado pelo Brasil, em 2006, foi 4,7% menor que o de 2005, e em valor caiu 8,7% (para US$ 3,214 bilhões)1, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
            Logo de início, a crise levou ao aumento do estoque interno e à desova de frango no mercado doméstico a preços baixos, para possibilitar menores perdas e o escoamento da produção. O segmento, preocupado, propôs uma diminuição da produção, que já há algum tempo vinha se expandindo em excesso. Aos pouco, as exportações voltaram a crescer, apesar de não alcançarem os mesmos valores de 2005. Apesar desta postura, os abates de aves (principalmente de frangos) cresceram 3,2%, segundo dados do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)2.
            Só mais recentemente as vendas externas da avicultura de corte tiveram impulso, com um crescimento inicial de 128%. Isto, apesar de representarem apenas 5,9% da produção paulista (tabela1).

Tabela 1- Participação e crescimento das exportações na produção de carne de frango do Estado de São Paulo, 2000-2006
 

Ano
Produção (t)

(a)

Exportação (t) (b)
Crescimento das exportações
% de Participação (a/b)
2000
1.024.170
22.670
 
2,2
2001
1.243.836
26.840
18,4
2,2
2002
1.029.458
61.219
128,0
5,9
2003
1.052.958
103.415
68,9
9,8
2004
1.124.518
186.075
79,9
16,5
2005
1.187.961
240.162
29,1
20,2

Fonte: IEA, 2005, e Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC), 2006

            Nos anos seguintes, apesar do menor crescimento, a participação das exportações continuou avançando em relação ao total da produção estadual. Isto, mesmo em 2005 quando o setor conviveu com problemas advindos do embargo russo a todas as carnes de algumas regiões brasileiras, inclusive de São Paulo, devido à presença de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná.
            Em 2006, as exportações paulistas alcançaram US$ 195,62 milhões, uma queda de 22,7% no desempenho estadual, enquanto as vendas externas brasileiras chegaram a US$ 3,20 bilhões, um decréscimo de 8,7%. Isto significa que, apesar da recuperação das exportações, após o primeiro impacto da crise o Brasil conseguiu manter uma exportação próxima à do ano anterior, enquanto em São Paulo o impacto foi bem maior.
            Isto ocorreu devido, ainda, ao pequeno espaço conseguido no mercado externo pelo Estado, principalmente após a primeira crise sanitária, ocorrida nos países asiáticos em 2004. A conquista deste espaço deu-se por esforço próprio, conforme levantamento feito pelo IEA3 junto aos abatedouros exportadores paulistas4.
            Por enquanto os mercados atingidos ainda são, na maioria, países menos exigentes em relação às práticas de produção, como Rússia, países africanos, Hong Kong, países do Oriente Médio, China e países do Leste Europeu e da América do Sul. Mas há empresas exportadoras que já atendem ou pretendem atender à União Européia, o que exige a introdução do HACCP5.
            O principal gargalo está relacionado à logística. O Porto de Santos é considerado o maior entrave às exportações de frango paulista, pois, além da saturação, há inúmeros problemas. A falta de containers refrigerados é o maior deles. Estes containers, que exportam as carnes brasileiras, não conseguem voltar rapidamente, pois não há frete de retorno no país de destino. Há ainda deficiências de locais de armazenagem nos berços de atracação, falta de equipamentos, prioridade no embarque de outras cargas, como as de frutas, taxas de embarque e aduana muito altas, etc.
            O avanço das exportações paulistas deu-se como conseqüência de ganho de competitividade conseguido com investimentos que possibilitaram baixo custo de produção, avanço tecnológico, sanidade dos animais, introdução de programas de qualidade, atendimento a exigências de mercados externos e preço.
            A condição de estado exportador tem mais chance de se fortalecer com a introdução da regionalização da atividade, lançada pelo governo brasileiro com o Plano Nacional de Prevenção à Influenza Aviária e de Controle da Doença de Newcastle. São Paulo aderiu ao plano, que é voluntário, e já está em processo avançado para a implantação.
            A princípio, a expansão da influenza aviária afetou negativamente o mercado brasileiro. Mas a ausência dela no território nacional, até o momento, é um fator positivo que favorece a avicultura de corte do país e deverá auxiliar as exportações, bem como deverá ser fator consolidador da posição do Brasil como primeiro exportador mundial de carne de frango.
            A falta de apoio e estrutura para exportar não tem sido empecilho para os abatedouros paulistas, que têm conseguido se manter no mercado apesar das crises mundiais relacionadas à questão sanitária, principalmente no que diz respeito à influenza aviária. Mesmo pretendendo continuar investindo para expandir seus mercados, a preferência, segundo os abatedouros da pesquisa do IEA3, é manter o mercado interno como principal foco, pois o Estado de São Paulo como maior mercado consumidor do país é ainda o melhor mercado.
            A política sanitária viabilizará (ou não) o caminho do país no mercado externo. Novos investimentos em recursos orçamentários e humanos demonstrarão a maior seriedade do país na área de sanidade animal, o que poderá imprimir maior credibilidade aos produtos brasileiros. Conseqüentemente, o Estado de São Paulo terá a possibilidade de continuar a expansão de suas vendas, dentro dos parâmetros propostos.6

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1 Indicadores Agropecuários, Saldo da Balança do Agronegócio, disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb/download/indicadores/0207_balanca_saldo.pdfAcesso em 26 jan. 2006
2 Avisite, "Cresceu o abate de aves em 2006; apesar da crise". Disponível em: http://www.avisite.com.br/noticias. Acesso em 26 de janeiro de 2006.
3 Pesquisa realizada pela autora através de projeto desenvolvido no Instituto de Economia Agrícola: "Avicultura de Corte de São Paulo: Estratégias para o Incremento das Exportações".
4 Os resultados do levantamento mostraram que as exportações do Estado se concretizaram devido ao esforço individual das empresas, que na grande maioria fizeram investimentos com capital próprio, devido às dificuldades de obterem recursos para aplicar nos abatedouros, em aquisição de máquinas, adaptações no sistema de abate, treinamento, mudanças estruturais e implantação de programas de qualidade.
5 HACCP é a sigla (em inglês) do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, segundo Stringer (1994). Trata-se de sistema baseado numa forma sistemática de identificar e analisar os perigos associados com a produção de alimentos, bem como de definir maneiras de estabelecê-la.
6 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-10/2007

Data de Publicação: 16/02/2007

Autor(es): Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor